13/09/2017 - 17:29
O ex-presidente Lula não respondeu a todas as perguntas durante audiência nesta quarta-feira, 13, frente a frente com o juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato. O petista foi interrogado em ação penal sobre supostas propinas da Odebrecht. A audiência de Lula durou mais de duas horas. O primeiro a questionar o ex-presidente foi Moro. Em seguida, vieram o Ministério Público Federal e as perguntas da defesa.[posts-relacionados]
Moro abriu interrogatório questionando sobre o apartamento comprado pela Odebrecht e registrado em nome do sobrinho do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, Glauco Costamarques Bumlai.
Lula disse que não conhece o sobrinho de Bumlai e que não participou de negócio de compra do imóvel. É um apartamento vizinho ao do presidente em São Bernardo, que era usado pela segurança presidencial. O ex-presidente disse que imóvel era do sobrinho e que ele quis ficar com o apartamento e alugado por ele. “Hoje é um apartamento que está lá a minha disposição. Se permitirem que eu seja candidato em 2018, ele terá uma função política muito forte.”
Irritado
Questionado sobre os pagamentos de aluguéis, Lula disse que “deve ter os recibos” de pagamentos. Moro insistiu que eles não foram apresentados ainda pela defesa.
Aos 20 minutos de depoimento, Lula alterou a voz, visivelmente irritado com a insistência de Moro sobre a acusação de não pagamento de aluguel do imóvel em nome do sobrinho de Bumlai.
“Vou repetir para o senhor. Nunca houve qualquer denúncia que o apartamento não estava sendo pago, seu Glauco nunca levantou… seu Glauco nunca cobrou, seu Glauco nunca me telefonou. Nem ele, nem ninguém. Pois bem, estou dizendo para o senhor que tinha uma relação da Dona Marisa (Letícia, ex-primeira dama, que morreu em fevereiro) no contrato do aluguel, que a Dona Marisa cuidava de forma responsável das coisas da casa. Só fiquei sabendo agora quando Glauco prestou depoimento.”
Depoimento de Palocci
Sobre Antonio Palocci, Lula afirmou que o ex-ministro (Fazenda/Casa Civil, Governos Lula e Dilma) ‘está preso há mais de um ano e tem o direito de querer ser livre’. “Parece que tem uma caça às bruxas. Eu tenho lidado com muita paciência. Eu vi o depoimento do Palocci, não respondi nada, não falei nada. Muita gente achou que eu ia chegar com muita raiva do Palocci. Eu achei que o Palocci tá preso há mais de um ano, o Palocci tem o direito de querer ser livre, tem o direito de querer ficar com o pouco do dinheiro que ele ganhou fazendo palestra, ele tem família. Tudo isso eu acho. O que não pode é se você não quer assumir a tua responsabilidade pelos fatos ilícitos que você fez, não jogue em cima dos outros.”
“Eu fiquei muito preocupado com a delação do Palocci, porque ele poderia ter falado ‘Eu fiz isso de errado, eu fiz isso’. Ele, espertamente, disse, ‘não é que eu sou santo’ e pau no Lula. ‘Não é que eu sou santo’, que é um jeito de você conquistar veracidade na tua frase. Eu fiquei com pena disso”, afirmou.
Na semana passada, Palocci rompeu o silêncio, fez um relato devastador e entregou o ex-presidente, a quem atribuiu envolvimento com o que chamou de ‘pacto de sangue’ com a empreiteira Odebrecht que previa repasse de R$ 300 milhões para o governo petista e para Lula.
Instituto Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou, em interrogatório ao juiz federal Sérgio Moro, nesta quarta-feira, 13, que a ex-primeira dama Marisa Letícia, falecida em fevereiro, tenha tratado sobre a construção da sede do Instituto Lula com o pecuarista José Carlos Bumlai. Confrontado com o depoimento de seu amigo, o petista rebateu afirmando que há “pessoas contando fantasias”.
O ex-presidente negou saber que a Odebrecht teria envolvimento na compra do terreno e que o imóvel teria sido comprado em nome de Glaucos da Costamarques, primo de Bumlai.
Ele disse que o imóvel era “velho”, em “uma área perto do aeroporto”.
“Como decidimos não adquirir fomos procurar um prédio mais adequado onde transita o povo de SP que era ali perto da estação da Luz”, contou.
O juiz federal Sérgio Moro questionou Lula sobre o depoimento de José Carlos Bumlai, que afirmou ter sido procurado pela ex-primeira-dama para tratar sobre o Instituto.
O pecuarista ainda disse, em depoimento, que fez as primeiras tratativas para a compra do imóvel, mas, depois, teria repassado o assunto a seu primo.
“Eu queria fazer uma explicação sobre esse negócio. O nome da Marisa de vez em quando é citado, não sei se com leviandade ou não. Todas as pessoas que trabalhavam comigo sabiam que era proibido de falar em qualquer coisa de Instituto Lula ou de memorial enquanto eu estivesse exercendo o cargo de presidente da República. Eu vi o Palocci mentindo aqui essa semana. Mas eu quero antecipar. Ninguém no meu governo, muito menos na minha casa, discutia coisa de Instituto porque eu dei uma ordem: ‘não quero discutir instituto Lula até 31 dezembro de 2010!’”.
Lula ainda disse que, “se conversaram com a Marisa” ela não teria contado a ele. “E eu acho muito difícil de ter conversado com a Marisa e ela me contar”.
Questionado mais uma vez sobre o depoimento de Bumlai, o ex-presidente rechaçou a versão do pecuarista. “Eu acredito que tem pessoas que contam fantasias”.
Processo
Lula é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro sobre contratos entre a empreiteira e a Petrobrás. Segundo o Ministério Público Federal os repasses ilícitos da Odebrecht chegaram a R$ 75 milhões em oito contratos com a estatal. O montante, segundo a força-tarefa da Lava Jato, inclui um terreno de R$ 12,5 milhões para Instituto Lula e cobertura vizinha à residência de Lula em São Bernardo do Campo de R$ 504 mil.
Na semana passada, Palocci rompeu o silêncio, fez um relato devastador e entregou o ex-presidente, a quem atribuiu envolvimento com o que chamou de ‘pacto de sangue’ com a empreiteira Odebrecht que previa repasse de R$ 300 milhões para o governo petista e para Lula.
Além do ex-presidente e de Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci, também respondem ao processo o próprio ex-ministro, o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula – que será interrogado na quarta-feira, 20 -, o empreiteiro Marcelo Odebrecht e outros três investigados.
Lula já foi condenado na Lava Jato. Em julho, Sérgio Moro aplicou uma pena de 9 anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro ao petista no caso tríplex.
Há ainda, sob a tutela da Lava Jato no Paraná uma terceira ação penal. O ex-presidente é acusado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em obras do sítio de Atibaia, no interior de São Paulo. Este processo poderá colocar Lula e Moro frente a frente pela terceira vez na Lava Jato.