O governo francês solicitará em setembro à Comissão Europeia o fim das negociações entre Europa e Estados Unidos para um grande acordo comercial, o chamado TTIP, anunciou nesta terça-feira o secretário de Estado francês de Comércio Exterior.

“Não existe mais apoio político da França para as negociações, assim o país pede o fim das negociações”, afirmou Matthias Fekl à rádio RMC.

Fekl justificou a demanda por considerar que as negociações para criar uma Associação Transatlântica para o Comércio e o Investimento (TTIP, na sigla em inglês) estão desequilibradas a favor dos interesses dos Estados Unidos, e não dos 27 Estados membros da União Europeia.

“Os americanos não dão nada ou apenas migalhas (…) Entre aliados não se negocia assim”, lamentou o ministro.

Ele afirmou que as negociações terão que começar novamente mais adiante.

“Temos que parar de maneira clara e definitiva estas negociações para recomeçar com novas bases”, disse.

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Fekl também indicou que a França apresentará o pedido em setembro, durante a reunião de ministros do Comércio Exterior da UE em Bratislava (Eslováquia).

O presidente francês, François Hollande, afirmou pouco depois que não haverá acordo sobre o TTIP até o fim do mandato do presidente americano, Barack Obama.

“As negociações em andamento sobre o tratado entre Europa e Estados Unidos não poderão desembocar em um acordo antes do fim do ano”, disse Hollande em um discurso na conferência dos embaixadores no palácio do Eliseu.

“A França prefere encarar o problema de frente e não criar a ilusão de fechar um acordo antes do fim do mandato do presidente dos Estados Unidos”, acrescentou.

O secretário do Comércio não disse quando nem em quais condições poderiam começar as novas negociações. Mas o calendário aponta para depois da eleição de um novo presidente nos Estados Unidos, que só vai tomar posse em 2017.

Os dois principais candidatos à presidência americana, a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump, já criticaram duramente o TTIP.

O acordo, negociado em sigilo entre Washington e a Comissão Europeia desde meados de 2013, tem o objetivo de suprimir as medidas regulamentares e comerciais para criar uma grande zona de livre comércio e estimular o crescimento econômico.

Mas nos últimos meses as negociações foram afetadas pelas críticas de muitas ONGs, que temem que o tratado afete a legislação europeia na área do meio ambiente a favor das grandes empresas.

Também são cada vez maiores as dúvidas dos próprios governos europeus.

Na Alemanha, muitas vozes são contrárias ao acordo, inclusive dentro da coalizão de governo. Mas a chanceler Angela Merkel defende o projeto.

Reações


Horas depois das declarações dos representantes franceses, a Casa Branca afirmou que ainda espera finalizar as negociações até o fim do ano.

O porta-voz presidencial Josh Earnest disse que Barack Obama enviará seu representante comercial à Europa nos próximos meses.

A comissária europeia do Comércio, Cecilia Malmström, também respondeu à questão e afirmou que as negociações sobre o TTIP “não fracassaram”.

“As negociações são difíceis, com certeza, sabíamos desde o início, mas não fracassaram”, disse à imprensa em Bruxelas.

“Tínhamos o objetivo e continuamos (…) de concluir (as negociações) até o fim do mandato de Obama em janeiro de 2017”.

“E, se isto não for possível, é lógico fazer o maior progresso possível”, completou.

“Sei que o debate tem sido muito duro nos dois países, tanto na França como na Alemanha (…) Não sei porque os comentários são feitos neste momento”, disse Malmström.

“Mas isto não reforça minha posição como negociadora”, concluiu.


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