Com as regras que proíbem partidos e candidatos de receberem recursos de empresas e limitam as doações de pessoas físicas, as eleições deste ano podem se transformar em divisor de águas para o marketing político. As campanhas, segundo representantes de todos os partidos, serão muito mais modestas e marqueteiros que nos últimos pleitos estiveram à frente das principais candidaturas estão fora da disputa. Com isso, o desafio de lidar com a falta de dinheiro será imposto a profissionais ainda desconhecidos do grande público, mas que já estão com estratégias bem definidas.

novos tempos Elsinho Mouco, responsável por campanhas do PMDB, diz que não há margem para pirotecnia
Novos tempos: Elsinho Mouco, responsável por campanhas do PMDB, diz que não há margem para pirotecnia

“Não haverá espaço para pirotecnias televisivas como o brasileiro se acostumou a ver nos últimos anos. Os candidatos a prefeito terão que gastar sola de sapato para se aproximar do eleitor”, recomenda o publicitário Elsinho Mouco, responsável pelas propagandas do PMDB. Esse ano, ele assumirá as campanhas de candidatos do partido em capitais, como Belo Horizonte, Belém, João Pessoa e Rio Branco, além se dar consultoria à campanha de Marta Suplicy na disputa pela prefeitura de São Paulo.

Em sua avaliação, nesse cenário com poucos recursos, os candidatos serão efetivamente os atores principais. “Mais do que nunca, o político terá de se expor para atrair o eleitorado”, diz Mouco. A tendência é a de que a campanha pelos meios digitais possa ganhar uma nova dimensão. E, de fato, as redes sociais podem contribuir para aproximar candidatos de eleitores. Mas, nem todos apostam incondicionalmente nisso.

“ Os candidatos terão que correr os bairros para identificar o desejo da população” Felipe Soutello, marqueteiro
“ Os candidatos terão que correr os bairros para identificar o desejo da população” – Felipe Soutello, marqueteiro

“A tendência digital tem influência crescente, mas não diria que é o principal instrumento de difusão das ideias de um candidato”, avalia Felipe Soutello, que será responsável pela campanha de Andrea Matarazzo, do PSD, à prefeitura paulistana. Para ele, não é verdade que a campanha pela internet seja algo barato e os partidos ainda têm dificuldades para lidar com essa tecnologia. “As siglas tradicionais têm dificuldade e resistência de lidar com essa necessidade de interação digital”, afirma Soutello.

Mais corpo a corpo

Não bastasse os elevados custos com a produção de programas para o horário eleitoral a falta de recursos vai atingir o que os marqueteiros tratam como o cérebro de todas campanhas: as pesquisas. “Com muita pesquisa, chegamos muito próximo do ideal. Sabíamos exatamente para que público, como e quando falar”, avalia o veterano marqueteiro Nelson Biondi, que esse ano não participará das campanhas. E, para superar a falta de pesquisas qualitativas, mais uma vez a fórmula encontrada pelos novos publicitários consiste em “gastar a sola do sapato”.

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“Com muita pesquisa, sabíamos exatamente para que público, como e quando falar” Nelson Biondi, publicitário
“Com muita pesquisa, sabíamos exatamente para que público, como e quando falar” – Nelson Biondi, publicitário (Crédito:Avener Prado/Folhapress)

“Os candidatos terão que correr os bairros para identificar o desejo da população”, afirma Soutello. Por fim, o que os analistas políticos preveem é que a partir da experiência desse ano haja uma maior valorização dos debates entre os candidatos. A tendência é a de que os debates e a edição deles feita para a internet para viralizar nas redes sociais vire uma das principais armas da disputa. “Com certeza teremos menos cinema americano de Hollywood e mais cinema francês”, diz Elsinho Mouco.

Os resultados dessas estratégias começarão a ser percebidos depois de terminados os Jogos Olímpicos, mas o que todos os partidos já sentem é que a penúria financeira será maior do que a imaginada. Em tempos de Lava Jato, poucos admitem fazer doações, ainda que legais. Restará, então, usar recursos do fundo partidário ou apostar em candidaturas de líderes que estejam dispostos a colocar parte do patrimônio na disputa. Mesmo assim, a legislação impõe limites.


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