Neymar pode não ser o melhor jogador do mundo. Mas a sua transferência aponta como um divisor de águas na história do esporte. Diante do gasto com o craque pelo Paris Saint-Germain e de um investimento inédito de US$ 4,7 bilhões (cerca de R$ 14,6 bilhões) de clubes em reforços em apenas uma janela de transferência, a Fifa quer agora propor medidas para diminuir ritmo do que chama de “corrida desenfreada”.

Na avaliação do presidente da entidade, o suíço Gianni Infantino, a tendência registrada na última janela de venda de jogadores tem um custo para a imagem do futebol e ameaça minar a magia do esporte. Sua ideia é de desenvolver as novas regras até o final do ano e aprová-las para que possam começar a valer a partir de agosto de 2018, depois da Copa do Mundo. “Nós temos a responsabilidade de lidar com o sistema de transferências”, disse Gianni Infantino durante o Congresso da Uefa realizado em Genebra, na Suíça, nesta quarta-feira.

Entre as medidas sob análise está a de limitar o número de jogadores que um clube pode ter em seu elenco. A meta é a de evitar casos como o do Chelsea e outros clubes com mais de 30 jogadores no elenco, o que acabam inflacionando o mercado. Outra proposta que Gianni Infantino promete estudar é a de um teto para salário de jogadores e regras claras para empréstimos de atletas. “São questões que nunca foram tratadas de forma significativa”, disse.

Gianni Infantino também indicou que quer avaliar a introdução de regras claras para regular a atuação de agentes. Um dos temores na Fifa é de que, de uma forma cada vez mais frequente, jogadores tem sido vendidos para que possam render um porcentual para “atravessadores”. E não por razões esportivas e nem para o bem de suas carreiras. O impacto no mercado, porém, é o de pressionar na direção de uma inflação.

O presidente da Fifa indicou que não foi apenas a transferência de Neymar do Barcelona para o Paris Saint-Germain por 222 milhões de euros (R$ 824 milhões na cotação da época) que levou a cúpula da entidade a se debruçar no assunto.

O valor movimentado em transferências no último verão europeu foi quase 1 bilhão de euros (R$ 3,7 bilhões) a mais que o montante registrado em 2016. “Isso não reflete necessariamente bem”, disse o presidente da Fifa. “O que preocupa é a inflação que essas transferências geram e a corrida desenfreada que causa em outros clubes”, disse. “Do ponto de vista de uma percepção geral, isso não parece correto”, insistiu Gianni Infantino.

O presidente da Fifa acredita que essa vontade de regular o mercado não vem apenas da entidade. “Nunca senti essa tendência tão forte como agora. Não se limita apenas aos europeus e precisamos de um marco global”, completou.

Seu discurso foi seguido por um apelo do presidente da Uefa, o esloveno Aleksander Ceferin, aos chefes de estado da Europa para que ajudem o esporte a criar mecanismos para controlar o mercado.

Nesta semana, a chanceler alemã Angela Merkel criticou abertamente os gastos feitos pelo Paris Saint-Germain na compra de Neymar. “Tais valores são incompreensíveis. A Uefa e a Fifa precisam reajustar as regras de transferência para garantir maior equilíbrio”, disse. “Caso contrário, os valores podem subir ainda mais”, disse a primeira-ministra.