A ex-procuradora-geral venezuelana Luisa Ortega assegurou nesta quarta-feira (23), em Brasília, contar com “muitas provas” que envolvem em redes de corrupção o presidente Nicolás Maduro, a quem acusou de favorecer a ocultação de investigações sobre casos de corrupção, narcotráfico e terrorismo.

A ex-funcionária disse ter recebido ameaças de morte e que foi bastante apoiada por seus pares sul-americanos reunidos em uma cúpula, antes de ser recebida pelo chanceler brasileiro, Aloysio Nunes.

“O que acontece na Venezuela é a morte do Direito. A estabilidade da região está em perigo”, disse a ex-funcionária, acolhida como “legítima procuradora-geral da Venezuela”, nas palavras do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

“Não há garantias de que na Venezuela alguma investigação relacionada ao crime organizado, ao tráfico de drogas e à corrupção tenha uma condenação, uma sanção […], porque o mais provável é que as provas obtidas, provas que sejam enviadas à Venezuela, desapareçam”, afirmou.

“Há muitos interesses na Venezuela para que não investiguem os casos de corrupção, os casos relacionados ao tráfico de drogas, ao terrorismo”, insistiu Ortega, que fugiu na sexta-feira (18) para a Colômbia, onde lhe foi oferecido asilo político.

“Não há garantias de que na Venezuela alguma investigação relacionada com o crime organizado, o tráfico de drogas e a corrupção tenha uma condenação, uma sanção (…), porque o mais provável é que as provas solicitadas, provas que sejam enviadas à Venezuela, desapareçam”, afirmou.

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Caracas busca Ortega por suposta participação em um esquema de corrupção e anunciou que vai pedir sua captura via Interpol, mas Ortega não parece temer uma eventual extradição. “Continuarei lutando, continuarei percorrendo o mundo para denunciar o que acontece na Venezuela e denunciar a violação aos direitos humanos”, declarou.

O ponto de ruptura, detalhou, foi a formação no país de uma Assembleia Constituinte, que suplantou o Poder Legislativo “vulnerabilizando a soberania popular”.

– O fantasma da Odebrecht –

A dissidente disse ter “muitas provas, e concretamente no caso relacionado à empreiteira Odebrecht, que comprometem muitos funcionários venezuelanos de alto escalão, começando pelo presidente da República”, assim como dois de seus principais substitutos, “os membros da Assembleia Constituinte, Diosdado Cabello e Jorge Rodríguez”.

Ortega antecipou que cederia esse material a outros países para que avancem com as investigações e afirmou que no caso Odebrecht detectou que Cabello, um dos homens fortes da Venezuela, recebeu “100 milhões de dólares de uma empresa denominada espanhola […] cujos proprietários são seus primos”.

“No caso da Odebrecht detectamos que depositaram a Diosdado Cabello 100 milhões de dólares em uma empresa (…) espanhola denominada TSE Arietis, cujos proprietários são seus primos, Luis Alfredo Campos Cabello e Jesús Campos Cabello”, afirmou a ex-procuradora na coletiva.

Após se reunir com Aloysio Nunes, Ortega reiterou suas denúncias: “o Estado venezuelano desembolsou 300 bilhões de dólares por obras que atualmente estão paralisadas. Temos todos os elementos que comprometem, não apenas o presidente da República, mas também seu entorno: Diosdado Cabello, Jorge Rodríguez, Elías Jaua e outros”.

A ex-procuradora não detalhou a que período correspondia este montante.

A Odebrecht admitiu ter pago propinas a funcionários de América Latina e África, uma ação que colocou em xeque presidentes e ex-presidentes, e desatou um confronto entre o poder judiciário e político em vários países.

Ortega disse que tudo isso faz com que tema por sua vida.

“Tenho ameaças que podem atentar contra a minha vida e responsabilizo o governo venezuelano se isso chegar a acontecer”, assinalou a ex-funcionária de 59 anos, que planeja voltar para Bogotá.


– Procuradores solidários –

O governo do presidente Michel Temer questionou duramente o processo venezuelano.

No entanto, o Brasil se vê mergulhado em escândalos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato, que tem a Odebrecht como uma das principais envolvidas.

A investigação alcançou Temer, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Collor e Dilma Rousseff, e tem em sua mira ministros e dezenas de legisladores.

“O Brasil como um todo, o presidente Temer, a sua política externa, realmente está num momento de declínio, perdeu muito a importância que teve no passado, mas tem novos atores que estão despontando no reconhecimento internacional da Lava Jato. Juízes federais brasileiros, o Ministério Público, a Polícia Federal, ganharam um reconhecimento externo importante também”, disse à AFP Mauricio Santoro, especialista em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).


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