A maior esperança dos detratores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, era a convicção de que o mundo via com péssimos olhos as políticas populistas do novo líder americano (apesar de ele receber inequívoco apoio da parte da população que o elegeu). A confiança pode ir por água abaixo depois da revelação de que a maioria das pessoas na Europa aprova uma das principais medidas de Trump: a proibição da entrada de imigrantes de sete países muçulmanos. É a conclusão de uma pesquisa que perguntou à população europeia se a imigração de nações predominantemente islâmicas deveria ser barrada. Mais de metade dos habitantes do Velho Continente concorda com o veto. O europeu médio tem repulsa à figura de Trump, mas o levantamento mostra que muitos deles estão mais alinhados ao presidente do que se supõe. “Ele é um animador de auditório, do tipo que não faz muito sucesso na Europa”, diz Ricardo Mendes, responsável pelo escritório nos Estados Unidos da consultoria Prospectiva. “Porém, o europeu está sob muita pressão por conta dos imigrantes que chegam aos seus países.”

Apesar de o sentimento contra refugiados ser mais intenso na Áustria, Bélgica, França, Hungria e Polônia, mesmo os lugares mais tolerantes apresentam índices extremamente altos de xenofobia. Entre os países consultados, a Espanha é o que tem a população mais aberta. Mesmo assim, 41% concordam que a entrada de imigrantes vindos de nações muçulmanas deveria acabar. Em nenhum local, mais de um terço discorda. Os achados também revelam como o anti-islamismo é especialmente intenso entre os mais velhos (60%), os menos educados (59%) e os que vivem no campo (58%). No entanto, os números ainda ficam perto da metade entre os mais novos, mais educados e que vivem nas cidades. “Na maioria dos estados onde a oposição é forte, a direita radical está entranhada como uma força política e busca mobilizar essa angústia contra o Islã nas urnas”, afirma o relatório da pesquisa, realizada pelo instituto de relações internacionais Chatam House.

SEM SAÍDA A chancer alemã Angela Merkel: extrema direita pode rachar a União Europeia
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Onda de populismo

Uma onda de populistas, oportunistas e aventureiros conquista espaço na Europa. Eles alcançaram vitórias eleitorais expressivas, como a saída do Reino Unido da União Europeia e a consequente abdicação do ex-premiê David Cameron. Na Itália, a derrota em um referendo constitucional também obrigou o ex-primeiro-ministro Matteo Renzi a deixar o posto. Em 2017, países importantes como a França farão eleições. Lá, a principal candidata é Marine Le Pen, chefe do partido fascistoide Frente Nacional. Angela Merkel deve se reeleger na Alemanha, mas o partido de extrema direita AFD vem crescendo nos estudos de opinião e pode conquistar cadeiras no Parlamento. Na Holanda, os radicais do PVV, com promessas como a de banir mesquitas do país, também conquistam eleitores. “Os populistas ficaram felizes quando leram a pesquisa”, diz Oliver Stuenkel, membro do Instituto Global de Políticas Públicas, em Berlim.18

Quando perguntados diretamente sobre Trump, os europeus mostram uma postura diferente. Em um levantamento feito antes da eleição americana pelo Pew Research Center, a maioria dos cidadãos dizia não confiar no então candidato – cuja rejeição se aproximava dos 90% na Suécia, Alemanha, França e Reino Unido. De acordo com Stuenkel, isso se deve ao estilo bufão do mandatário. “O eleitor europeu prefere tipos mais sóbrios, com ares de tecnocrata.” É claro, existem exceções. A mais célebre delas é o comediante Beppe Grillo, líder do Movimento Cinco Estrelas, a força política em ascensão na Itália. “Eles não necessariamente apoiam o presidente americano, mas sim as medidas que ele defende”, afirma Mendes.

Atualmente, há um enorme fosso separando as pessoas da elite política tradicional. Quando anunciou que barraria a entrada dos países islâmicos, Trump foi achincalhado duramente na Europa, do esquerdista François Hollande à direitista Merkel – que precisou lhe “explicar” como a Convenção de Genebra protege refugiados. O cidadão comum, porém, parece possuir outra opinião e quer que seus mandatários desrespeitem os protocolos existentes. Uma pesquisa Ipsos mostra que mais da metade da população de 22 nações acredita que seu país está em declínio e que os políticos tradicionais não estão dispostos a resolver os problemas da população. Resultado: 49% das pessoas apoiam líderes fortes dispostos a quebrar regras. “Os políticos tradicionais não estão falando dos imigrantes, mas os de extrema direita, sim”, diz Mendes. “Com os radicais dominando o debate, uma solução moderada não vai aparecer.”

Com radicais dominando o debate sobre imigrantes, uma solução moderada não vai aparecer

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