Os Estados Unidos acusaram nesta sexta-feira ao Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela de “polarizar” e tentar “bloquear” uma saída democrática à profunda crise política, após paralisar o processo de referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.

“Infelizmente, pensamos que esta decisão é indicativa da polarização do Conselho”, destacou o porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby, com relação ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

O porta-voz ressaltou, lendo uma nota, que o CNE “está sendo usado para bloquear o exercício pelo povo venezuelano de seu direito constitucional e democrático a determinar a direção do seu país”.

A máxima autoridade eleitoral venezuelana, que se diz independente, mas que a oposição acusa de estar a serviço do governo, suspendeu na quinta-feira o processo de coleta de quatro milhões de assinaturas (20% do colégio eleitoral), previsto para os dias 26 a 28 de outubro, que era a última etapa para convocar o referendo.

O CNE justificou a decisão acatando a sentença de tribunais penais de cinco estados, que acolheram denúncias de fraudes em uma etapa anterior do referendo.

“Estamos profundamente preocupados com a decisão”, disse Kirby, destacando que os venezuelanos enfrentam “desafios” humanitários, políticos e econômicos “cada vez mais severos”.

A decisão do CNE deixa praticamente anulada a possibilidade de celebrar um referendo contra Maduro e abre a porta a um aprofundamento ainda maior da crise política no país petroleiro.

Kirby não adiantou quais passos os Estados Unidos darão no âmbito regional, destacando que “não temos nada específico” para anunciar, reiterando o chamado ao governo e à coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) a estabelecer um “diálogo”.

As tentativas de aproximação entre o governo e a oposição, conduzidas pelo ex-chefe de governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero e os ex-presidentes de Panamá e República Dominicana, Martín Torrijos e Leonel Fernández, foram infrutíferas.

“Continuamos pressionando por um diálogo”, disse Kirby.

Maduro, eleito em abril de 2013 após a morte de seu mentor, Hugo Chávez, e cujo mandato termina em janeiro de 2019, enfrenta índices de reprovação de 76,5%, segundo a empresa Datanálisis.

Segundo o instituto de pesquisas, 62,3% votariam por sua saída.