Desde que perdeu para a Aids o seu companheiro Fransis Menuge, nos anos 90, Jean Paul Gaultier é engajado na luta contra a doença. Está sempre presente nos bailes da AmFar. Gaultier contou ainda que , na escola, era rejeitado pelos meninos. Até que um professor lhe flagrou desenhando e, para puni-lo, o obrigou a percorrer todas as classes na escola com o desenho nas costas. “Me tornei popular. percebi que eu poderia ser amado pelos meus desenhos e por meio do meu trabalho”, conta o estilista a ISTOÉ. “ No fim das contas, nós fazemos nossos trabalhos para sermos amados.”

O sr. é muito engajado na causa da Aids. E já declarou que o maior amor que teve na vida foi seu parceiro, Francis Menuge, que morreu de Aids em 1990. Como o sr. vê a luta contra a Aids hoje?
Eu sou comprometido com a AmFar (ONG mundial de apoio às pesquisas pela Cura da Aids) desde o início. Eu mesmo já fiz um desfile de moda em Los Angeles, com esse intuito. Muito tem sido feito, mas nós não encontramos a vacina ou a cura. Os jovens estão começando a não se proteger. A AIDS ainda está presente no mundo desenvolvido, bem como no Terceiro Mundo. O importante é manter a luta para nos proteger da Aids e para encontrar a cura. Eu gostaria de ter inventado o preservativo. É a melhor peça de roupa.

Como o sr. administra as carreiras de estilista e businessman ao mesmo tempo?
Sou um costureiro. Eu nunca gostei da parte de negócios no meu trabalho. O que eu amo é apresentar mostras, criar desfile de moda como algo vivo, e não como roupas em cabides. Minha vocação veio do cinema, do filme Falbalas, de Jacques Becker. Quando eu vi um desfile de moda no filme, eu sabia que era o que eu queria fazer. E eu mal tinha dez anos de idade. Meu sonho era criar moda. E eu vivo o meu sonho.

Como o sr. vê o mercado de luxo hoje, diante do movimento pelo consumo responsável? Como isso impacta a moda?
Eu tenho dito há anos que existem muitas roupas e não há pessoas suficientes para usá-las. Nós temos que parar e pensar do que realmente precisamos.

Donatella Versace declarou recentemente: “O calendário da moda está em uma confusão. Estou farta com este sistema. O modelo de negócio das marcas de luxo está prestes a mudar de forma radical. Estamos todos pensando sobre o que fazer”. Como o sr. vê o conceito “compre agora” e esse movimento atual da moda?
O caminho do couture é “compre agora”, tal como você vê o desfile e encomenda o seu pedido. Mas, ao mesmo tempo, você tem que aprender a ter paciência porque isso tudo é feito à mão, o que envolve no mínimo dois momentos de confecção, como encaixes e bordados, e uma peça pode levar meses para ser terminada.

Quais são as melhores lembranças de sua infância?
Eu era apenas uma criança, e embora não tivesse irmãos ou irmãs, eu não me sentia sozinho. Gostava de passar o tempo com a minha avó, passava horas vasculhando suas gavetas. Ela tinha coisas fantásticas como penas ou espartilhos. Eu poderia olhar para as nuvens por horas e imaginar coisas. Eu também adorava assistir TV e minha avó me deixava assistir o que eu quisesse.

O sr. já contou que sofreu bullying na escola. Quando os colegas descobriram que desenhava muito bem, tornou-se popular. Foi assim mesmo?
Eu não gostava da escola porque eu me sentia rejeitado por outros meninos, mas um dia meu professor me pegou desenhando vedetes com meias arrastão e plumas que eu tinha visto na TV na estreia de Folies Bergère. O professor prendeu meu desenho nas minhas costas e me fez passar por todas as classes para me punir. Mas em vez disso, eu me tornei mais popular.Todos começaram a me pedir para desenhar. Foi quando eu percebi que eu poderia ser amado pelos meus desenhos e por meio do meu trabalho. No fim das contas, nós fazemos nossos trabalhos para sermos amados.

Madonna ou Lady Gaga? Que artistas considera vanguarda hoje?
Madonna sempre. Eu amo toda a arte contemporânea. Há um monte de coisas acontecendo no teatro também.

O que é o amor na sua visão? O sr. está apaixonado e em algum relacionamento?
Sim, eu estou num relacionamento, e sim, eu amo amar.

Aos 64 anos, qual é o sentido da vida para o sr.?
Estou muito feliz como eu vivo o meu sonho. Eu sempre quis fazer moda e eu ainda faço. E eu ainda tenho paixão por ela.