Poucas celebridades lietrárias são mais acessíveis que Don DeLillo. Aos 80 anos, ele é considerado um dos maiores romancistas americanos em atividade. “Alô, como vai?”, atende ao telefone de seu apartamento em Nova York. “Olha, pode fazer a entrevista, mas estou com sono.” Diz isso com o humor ambíguo e as doses de ironia que sempre destila em suas conversas e narrativas. Mesmo com sono, ou por causa dele, ele se alonga em responder às perguntas sobre seu romance “Zero K” (2016), lançado nesta semana pela Companhia das Letras. É o seu 16º romance em 46 anos de atividade. LEIA TAMBÉM – Don DeLillo: “A ficção americana vai muito bem”

“Vivemos na era do pesadelo 24 horas” Don DeLillo, escritor americano

Você já tratou de todo tipo de distopias e figuras excêntricas, mas se superou ao ambientar “Zero K” em uma clínica de criogenia. Como foi a pesquisa para o livro?
Não pesquisei, para não contaminar a narrativa com termos técnicos. Não se trata de ficção científica, mas de uma história sobre fatos que ocorrem neste momento. Imaginei uma situação real: um bilionário, Ross Lockhart, que vive com a mulher moribunda, Artis, em um complexo hospitalar criogênico no Quirguistão. Ele quer alcançar a eternidade, mas Artis vai na frente: antes de o corpo dela ser congelado para reviver no futuro remoto, Ross convida o filho Jeff para visitá-los. E Jeff passa a desejar a vida eterna.

É o velho anseio humano, não?
Sim, mas o anseio pode ser realizado agora. Antes era uma questão de fé, agora é de ciência: é possível hoje viver para sempre. Há muitas clínicas de criogenia no mundo. Elas congelam principalmente cabeças, para ressuscitar o sujeito no futuro distante. Será que a identidade do sujeito será restaurada depois que a cabeça for descongelada? O problema é o que a nova realidade irá ocasionar ao ser humano: o controle da vida, mas sobretudo um estado de angústia permanente.

O que é “Zero K”?
É um setor na clínica no qual as pessoas podem viver a eternidade sem precisar ser congeladas nem perder a consciência. O objetivo de Jeff é viver nesse setor.

O presidente Donald Trump poderia ser um personagem do livro?
Olha, não vou falar sobre ele, porque cansei. Só digo que vivemos a era do pesadelo 24 horas.

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