Helena Ignez, CINEASTA

Estrela do Cinema Novo, mulher de Glauber Rocha e Rogério Sganzerla, Helena Ignez não cessa de surpreender. E mantém acesa a chama do cinema transgressivo, marginal.

Ralé não é bem uma adaptação de Gorki. O que é?

Há boas montagens e adaptações da peça. É um texto reverenciado por suas histórias que não compõem uma dramaturgia clássica. Eu ia adaptar Gorki, mas percebi que nesses 115 anos (a peça é de 1901), a ralé mudou e hoje somos nós, os artistas que não se enquadram no mainstream. Gorki, e Ralé, exigem esse olhar marginal. Me apropriei de personagens de Rogério (Sganzerla) e chamei os amigos libertários, Ney (Matogrosso), Zé Celso.

A cena inicial é maravilhosa. Com uma fita isolante, Djin Sganzerla modifica o quadro.

Essa intervenção no próprio quadro e na imagem é a essência do marginal. Descobri nos últimos anos um autor maravilhoso, Tsai Ming-liang. Amei um filme dele encomendado pelo Museu do Louvre, Visages. Foi o filme que me estimulou a transgredir em Ralé.

E o Ney (Matogrosso)?

É um querido. Ney já me contou tantas histórias da vida dele que já sei até onde posso ir com ele. Não tem limite. Esse tipo de artista me impulsiona a ousar mais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.