Novos medicamentos para tratar a tuberculose multirresistente podem se tornar rapidamente ineficazes se não forem utilizados da forma correta, segundo um relatório divulgado na véspera dessa sexta-feira, Dia Mundial do Combate à Tuberculose.

Antibióticos como a bedaquilina, delamanida e a linezolida foram adicionados recentemente ao arsenal de medicamentos contra a tuberculose, mas estão diminuindo sua eficácia conforme a bactéria da doença desenvolve resistência a uma gama cada vez maior de tratamentos.

O controle sobre a indicação e o uso desses medicamentos tem que ser aumentado, ou “seu efeito pode ser perdido rapidamente”, de acordo com o relatório publicado na revista médica “The Lancet Respiratory Medicine”.

A resistência a antibióticos pode se desenvolver quando um medicamento prescrito falha ao tentar matar uma bactéria alvo, seja porque é o medicamento errado ou a dose errada ou se não for tomado como deveria.

Mas uma cepa resistente pode passar diretamente de uma pessoa para outra, tornando a doença muito mais cara e difícil de tratar.

Houve uma longa pausa no desenvolvimento de medicamentos para tuberculose até o lançamento do último grande antibiótico, a rifampicina, aprovada nos anos 1970.

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Mas novos medicamentos começaram recentemente a entrar para a lista de tratamento de pacientes que não respondem à gama existente.

Estudos preliminares com linezolida, bedaquilina e delamanida mostraram que eles “melhoram substancialmente os resultados dos tratamentos, dando esperança para pacientes que foram considerados anteriormente impossíveis de tratar”, diz o relatório.

‘Multirresistentes’

“Apesar disso, sem um investimento que promova o acesso aos novos tratamentos, incluindo ciclos menores com menos efeitos adversos, os medicamentos eficazes vão se tornar escassos de novo enquanto a resistência evolui contra as novas opções de tratamento”, alerta o relatório.

A tuberculose mata mais pessoas a cada ano do que qualquer outra doença infecciosa.

Em 2015, segundo estimativas, foram 1,8 milhão de pessoas mortas pela doença em todo o mundo – 60% delas vivem na Índia, Indonésia, China, Nigéria, Paquistão e África do Sul.

Cerca de um em cinco casos de tuberculose hoje são resistentes a pelo menos um tipo de antibiótico, e cerca de 5% são consideradas cepas multirresistentes (MDR-TB na sigla em inglês).

Em 2015 foram 480.000 casos multirresistentes, metade deles na Índia, China e Rússia.

A migração e as viagens, diz o relatório, “significam que a tuberculose multirresistente chegou a todas as partes do mundo.”

Esse é um problema crescente na Europa Oriental e na Ásia Central, aumentado pela migração de trabalhadores não diagnosticados ou não tratados de tuberculose, diz Michel Kazatchkine, enviado especial para Aids da ONU na região, em entrevista à AFP.

Milhares de trabalhadores imigrantes se mudam dos países da Ásia Central para Rússia e Cazaquistão a cada ano.


Para impedir a propagação da doença, os países têm que parar de deportar imigrantes diagnosticados com tuberculose multirresistente ou com o vírus HIV, diz Kazatchkine.

“Atualmente, em muitas instâncias, conforme a região de diagnóstico de tuberculose, tuberculose multirresistente e HIV, isso significa deportação, uma prática muito conhecida por ser ineficaz para a saúde pública, que viola os direitos humanos e que pode levar a infecções resistentes a medicamentos.”

Além disso, os imigrantes têm que receber um tratamento completo nos país de acolhimento, segundo Kazatchkine.

“Se não soubermos lidar com a tuberculose multirresistente no leste europeu e na Ásia Central, ela pode se transformar em uma crise séria.”

Para David Moore, da escola londrina de higiene e medicina tropical, é chegada a hora de testar cada paciente diagnosticado com tuberculose para a multirresistência, assim pode ser tratado da forma correta e a propagação pode parar.

“A complacência sobre o diagnóstico de tuberculose multirresistente aconteceu por muito tempo pelos recursos limitados – a noção de que não poderíamos testar todas as pessoas com tuberculose para a multirresistência”, adverte.

“De fato, a verdade inconveniente é que não podemos nos dar ao luxo de não fazê-lo.”


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