O programa da CBF para controle do doping no futebol brasileiro precisa de bastante ajuste. É o que recomenda o médico português Luis Horta, que por ocasião da Olimpíada do Rio-2016 foi contratado como consultor internacional da Autoridade Brasileira de Controle de Doping (ABCD), mas que deixou o País antes dos Jogos, descontente com a interferência no trabalho de controle. Ao falar especificamente do futebol, ele ainda adverte que o controle de doping é frágil.

“A CBF tem comissão de controle e um número substancial de amostras é coletado por ano”, disse Luis Horta, em entrevista exclusiva ao Estado. “O Brasil é o país que talvez mais colete amostras, com 5 mil por ano. Mas, quando cheguei à ABCD e comecei a conhecer o programa da CBF, me dei conta de que muito teria de ser melhorado”.

Entre os problemas verificado por Luis Horta, está a inexistência de controles fora do período de campeonatos. “Praticamente não há controles fora de competição. Havia resistência da CBF sobre esse tema. Eles entendem que, como há um controle em cada rodada e como existem jogos no meio da semana e no fim da semana, não haveria tempo para que um atleta se dope”, contou.

O médico, porém, disse ter deixado claro que não é bem assim. “Expliquei que isso é uma falácia. Hoje, algumas substâncias só são detectadas no sangue ou urina em 24 horas. Se um atleta tem um jogo no domingo, ele pode se dopar no domingo pela noite e, na quarta, estará totalmente limpo”.

Fernando Solera, presidente da comissão de controle antidoping da CBF, garante que a entidade não fecha os olhos para este risco e que a realização de exames fora de competição faz parte dos planos. “Existe um programa de colaboração junto com a ABCD. Neste nosso acordo entre CBF e ABCD vai ser contemplado os exames fora de competição”, afirmou. “Os exames fora de competição no futebol brasileiro estarão a cargo da ABCD, mas com a participação dos médicos de controle de doping da CBF”.

DIFICULDADE – O responsável pela comissão antidoping da entidade disse que assinou o contrato de colaboração com a ABCD, há um ano e dois meses, exatamente por causa disso. Ele pondera que não existe no futebol uma maneira eficiente de se fazer o controle fora de competição porque os exames são pagos. “Alguém tem de pagar esse exame. Como eu chego em um clube e falo: ‘Todo o seu elenco vai ser analisado e, portanto, o custo de todos os exames é por conta do clube’? Impacta, não tem dispositivo legal para isso porque é uma atividade profissional”.

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Ele diz que o acordo com a ABCD é para que a autoridade faça os exames, mas não à revelia. “Não deixei que seja feito assim: ‘Eles vão lá, escolhem quando quiserem’. Tem de ser feito juntamente com a nossa comissão, porque o futebol conhece a minha comissão, não conhece a comissão da ABCD. Seria mais adequado estarmos participando disso”.

Fernando Solera, porém, diz ter uma opinião contrária à de muita gente sobre os exames fora de competição. “Comparo os dados estatísticos e contra números não há argumentos. Se eu pegar todos os resultado analíticos adversos, ou seja, os positivos da Wada, os positivos da Fifa e os positivos da CBF. A Wada tem 1,08% de positivos no mundo, a Fifa tem 1,4% de positivos e a CBF tem 0,1%”.

O médico acrescenta que a entidade tem controle de doping em toda partida de futebol. “Isso inibe muito um jogador, um médico, uma pessoa mal intencionada em dopar um atleta do futebol profissional”, argumentou Fernando Solera. “Enquanto eu tiver esses dados estatísticos me mostrando que o caminho é por aí, pouco vou brigar para que aconteçam exames fora de competição”, considerou o responsável pela área na CBF.


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