Quando o pai de Arturo González fugiu de Cuba, em 1964, só levou no avião para Madri uma mala com suas roupas e óculos. Agora, a família de González e outras 260 espanholas exigem de volta os bens confiscados durante o governo castrista.

No aeroporto, alguns milicianos confiscaram o relógio, um anel e outros objetos de valor de González. “Foi humilhação total, o que tinha valor ficava para a Revolução”, conta o filho.

Na época, o governo comunista de Fidel Castro já havia confiscado todas as propriedades da família, incluindo uma fazenda na província de Las Tunas e vários depósitos em Havana.

O pai de Arturo González morreu em 1981. Agora, este professor de economia de 58 anos que deixou Cuba quando era um bebê com sua irmã tenta recuperar os bens confiscados, ou pelo menos receber uma indenização.

A sua família é uma das cerca de 260 espanholas representadas pelo fundo de investimento 1898 Company. A sociedade, fundada em 2001, tenta persuadir outras 400 famílias para se juntar ao esforço.

A independência de Cuba da Espanha aconteceu em 1898, após quatro séculos de colonização. Mas quando a revolução triunfou, em 1959, os espanhóis ainda formavam a camada dos mais ricos.

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“Era uma comunidade próspera. Monopolizavam o setor do varejo”, explica Consuelo Naranjo Orovio, historiadora do Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCHS).

Os queixosos não têm esperança enquanto Cuba for governada pelo regime de Raúl Castro, irmão mais novo de Fidel, que morreu em 25 de novembro, aos 90 anos.

Mas eles esperam que este governo seja substituído por outro democrático que resolverá o problema das expropriações, a fim de atrair investidores estrangeiros.

‘Novo cenário’

Fidel Castro, afastado do governo em meados de 2006, cedeu oficialmente o poder em 2008 para seu irmão Raúl. Este, de 85 anos, anunciou que vai se aposentar em 2018. A grande questão é se o regime comunista vai ser capaz de sobreviver a sua partida ou morte.

“Quando vai terminar, não sabemos, mas o processo de mudança de regime já começou”, acredita Jordi Cabarrocas, fundador da 1898 Company.

“O novo sistema que vem depois de uma ditadura precisa criar um cenário novo, que possa incentivar o investimento” do exterior, explica.

Nesse sentido, “devolver os bens confiscados tranquilizaria quem quiser investir em Cuba”, diz ele.

O fundo estudou 40 casos semelhantes em outros países, particularmente no leste europeu, no século passado, e 90% das vezes os requerentes puderam recuperar os bens confiscados, afirma Cabarrocas.

As famílias que contratam os serviços da sociedade não têm que pagar qualquer comissão no momento da assinatura. Mas a empresa ficará com 30% do valor recuperado em nome de seus clientes.

Oficialmente não há nenhuma estimativa do valor total dos bens confiscados de famílias espanholas.


Cabarrocas estima em 2,5 bilhões de dólares correntes o valor das propriedades de seus clientes.

Segundo os termos de um acordo firmado em 1986 entre Madri e Havana, Cuba pagou 40 milhões de dólares por alguns bens confiscados, um terço em efetivo e o resto em espécie, mediante entregas de tabaco, por exemplo.


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