O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que viajará a Washington em meados de maio, declarou nesta sexta-feira que deseja virar com seu colega americano, Donald Trump, uma nova página nas relações entre Turquia e Estados Unidos, após meses de tensões pela Síria e pelo golpe de Estado frustrado.

“Estou convencido de que escreveremos com Trump uma nova página nas relações turco-americanas”, declarou Erdogan durante um colóquio organizado pelo centro de reflexão Atlantic Council em Istambul.

O encontro, previsto para 16 de maio, será o primeiro entre os dois presidentes.

As relações entre a Turquia e os Estados Unidos, dois membros da OTAN, se desgastaram nos últimos meses pelas divergências sobre a Síria, em particular sobre o apoio de Washington às milícias curdas das Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG), que combatem os extremistas no norte da Síria, e que Ancara considera “terroristas”.

“O apoio, a ajuda concreta que os Estados Unidos fornecem às YPG, está prejudicando o espírito da aliança” entre os dois países, disse Erdogan.

O chefe de Estado turco também reiterou que espera que os Estados Unidos detenham ou extraditem à Turquia o pregador Fethullah Gulen, classificado por Ancara como o instigador do golpe de Estado frustrado de julho.

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O fato de Gulen, que vive na Pensilvânia, “poder ​​continuar dirigindo livremente suas atividades (…) nos incomoda seriamente”, disse Erdogan.

“O que esperamos é que (os americanos) compreendam a amplitude da ameaça que enfrentamos e demonstrem sua solidariedade”, disse o chefe de Estado turco.

Erdogan fez estas declarações em meio a um clima de tensão na fronteira turco-síria, onde soldados turcos e membros das YPG trocam tiros há três dias.

Nesta sexta-feira, o exército russo informou que havia respondido a disparos de foguetes a partir de áreas curdas, com um saldo de “onze terroristas neutralizados”.

As YPG são o principal componente das Forças Democráticas Sírias (FDS), uma aliança de combatentes curdos e árabes que lutam contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI) na Síria apoiados pelos Estados Unidos.

Mas a Turquia considera as YPG como a extensão na Síria do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), uma organização separatista que trava uma sangrenta luta armada desde 1984 e que é considerada “terrorista” por Ancara, assim como por Estados Unidos e União Europeia.

Erdogan repetiu que se opõe a qualquer participação das YPG em uma ofensiva para expulsar o EI de seu reduto sírio de Raqa, acrescentando que proporá uma fórmula diferente a Trump durante sua visita aos Estados Unidos.

Sua ideia é que Washington apoie apenas os árabes sírios, rebeldes treinados por Ancara para conquistar Raqa.

Uma operação contra Raqa “não significa um grande custo para nós, para a Turquia, Estados Unidos, os membros da coalizão internacional. Se não tivermos sucesso, então por que existimos?”, se perguntou Erdogan.


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