Essencial para a articulação política com parlamentares e empresários, a assessoria especial do presidente Michel Temer sofreu duas baixas importantes em menos de 24 horas nesta terça-feira. Pela manhã, a Polícia Federal (PF) cumpriu um mandado de prisão contra Tadeu Filipelli, acusado de envolvimento em desvios na reforma do estádio Mané Garrincha, em Brasília. À noite, o ex-deputado Sandro Mabel entregou uma carta de demissão em que pedia sua saída da assessoria pela terceira vez, e foi atendido.

Os assessores especiais são responsáveis por auxiliar o presidente na interlocução com o Congresso, empresários, partidos políticos e representantes de Estados e Municípios. Integrantes do gabinete pessoal do presidente, eles despacham no mesmo andar de Temer no Palácio do Planalto. Abaixo, explicamos todos os casos que motivaram a saída dos homens do presidente.

23 de maio – Sandro Mabel

O ex-deputado federal e ex-assessor especial Sandro Mabel
Agência BrasilO ex-deputado federal e ex-assessor especial Sandro Mabel (Crédito:Agência Brasil)

Em meio à pior crise do governo Temer em cerca de um ano de gestão, o ex-deputado Sandro Mabel (PMDB-GO) pediu demissão e se tornou o quarto assessor especial da Presidência a deixar o cargo. À imprensa, Mabel disse que já havia requisitado seu desligamento em outras ocasiões desde novembro de 2016. Agora, segundo ele, a cobrança da família por seu retorno motivou a decisão. O Planalto já confirmou que ele vai deixar a função.

Mabel foi citado em delações premiadas de ex-executivos da Odebrecht divulgadas em abril. Segundo o delator Benedicto Barbosa da Silva Júnior, ele teria recebido R$ 140 mil por meio de caixa 2 relativos à campanha de Mabel para deputado federal em 2010. Já os delatores João Antônio Pacífico Ferreira e Ricardo Roth Ferraz afirmaram que os repasses ao político, não declarados à Justiça Eleitoral, chegaram a R$ 100 mil. O Ministério Público de Goiás requisitou à Polícia Federal abertura de inquérito para investigar as denúncias no dia 17 de maio.

Sobre o episódio, o ex-deputado afirmou em nota que suas contas foram aprovadas pela Justiça Federal e que a abertura de inquérito – em tramitação na Justiça Federal de Goiás, pois ele não tem foro privilegiado, – é normal. Ele diz que “quer o esclarecimento dos fatos o mais rápido possível”.

Mabel também afirmou que sua saída da assessoria especial, agora, não tem relação com as acusações que constam na delação premiada da empreiteira.

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23 de maio – Tadeu Fillipelli

O ex-vice governador do DF e ex-assessor especial de Temer é preso pela PF
Agência BrasilO ex-vice governador do DF e ex-assessor especial de Temer é preso pela PF (Crédito:Agência Brasil)

Na manhã de terça-feira (23), horas antes do pedido de demissão de Mabel, a PF deflagrou a Operação Panatenaico em Brasília. Na mira da polícia estavam dois ex-governadores do Distrito Federal, José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT), e o ex-vice governador Tadeu Filipelli, que participou do governo de Agnelo e ocupava o cargo de assessor especial no Planalto. Todos foram presos.

Filipelli é investigado por suspeita de participação em fraudes e desvios de dinheiro nas obras do estádio Mané Garrincha, que sediou jogos da Copa do Mundo de 2014 em Brasília. A reconstrução da arena foi estimada inicialmente em R$ 690 milhões, mas acabou custando cerca de R$ 1,5 bilhão, o que fez com que o estádio se tornasse o mais caro entre os 12 que receberam os jogos da Copa do Mundo de 2014.

O dinheiro saiu dos cofres da Terracap, empresa pública do governo do Distrito Federal. O ex-vice governador é suspeito de ter recebido propina no esquema.

Temer assinou o ato de exoneração assim que chegou ao Palácio do Planalto, na mesma manhã da operação.

Na terça-feira, a defesa de Filippelli informou que esperava ter acesso à decisão e as cópias dos autos para se pronunciar e tomar outras providências.

17 de maio – Rodrigo Rocha Loures

O deputado (PMDB-PR) e ex-assessor especial da Presidência Rodrigo Rocha Loures
Agência CâmaraO deputado (PMDB-PR) e ex-assessor especial da Presidência Rodrigo Rocha Loures (Crédito:Agência Câmara)

O deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-RR) exerceu a função de assessor especial de Temer de setembro de 2016 até março deste ano. No dia 28 de abril, o então assessor especial da Presidência foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil em espécie.

O caso veio à tona no dia 17 de maio, quando detalhes da delação premiada de Joesley Batista, dono da JBS, foram revelados pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo.

A entrega do dinheiro ocorreu no estacionamento de uma pizzaria no bairro dos Jardins, em São Paulo. Meia hora antes, o deputado havia se encontrado com o diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud, em um café e um restaurante no Shopping Vila Olímpia. Tudo foi registrado em câmeras escondidas por agentes da PF. Ao sair do estacionamento com a mala de dinheiro, Rocha Loures foi flagrado correndo apressado em direção a um táxi que o aguardava na Rua Pamplona, com o porta-malas aberto.

Segundo a delação de Joesley, a propina foi paga com o intuito de conseguir votos favoráveis à JSB no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Não há evidência de que membros do conselho tenham efetivamente agido em favor da empresa.

Rocha Loures é suplente de Osmar Serraglio (PMDB-PR), que deixou a Câmara dos Deputados para assumir o Ministério da Justiça.

14 de dezembro de 2016 – José Yunes

Ex-assessor especial de Temer, José Yunes, foi citado em delação premiada da Odebrecht
Ex-assessor especial de Temer, José Yunes, foi citado em delação premiada da Odebrecht (Crédito:Divulgação / Yacht Club Ilhabela)

Ex-assessor especial da Presidência e amigo pessoal de Michel Temer há pelo menos 40 anos, José Yunes pediu demissão do cargo após ser citado na delação premiada do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho. Foi o primeiro a sair do cargo de assessor do presidente, em dezembro.


Em uma carta enviada a Temer, Yunes afirmou que a decisão servia para preservar sua dignidade.”É fantasiosa a alegação que teria recebido recurso em espécie de doações do PMDB”, escreveu o ex-assessor na ocasião.

Dois meses depois, uma declaração de Yunes provocou instabilidade em um dos gabinetes mais próximos ao presidente. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ex-assessor, disse que intermediou o recebimento e a entrega de um “envelope” para o atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. A encomenda, segundo Yunes, foi entregue a ele pelo doleiro Lúcio Funaro em setembro de 2014. Em delação premiada, Melo Filho disse que foi entregue a Yunes R$ 1 milhão para a campanha presidencial da chapa Dilma-Temer.

“O Padilha me ligou e me perguntou se eu poderia receber um documento que depois seria pego por outra pessoa. Eu disse que não teria problema”, contou o ex-assessor. Yunes afirmou que não sabia qual era o conteúdo do envelope.


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