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Alex Silva/Estadão Conteúdo

“Se as pessoas que estão fazendo essas denúncias querem saber como se governa, têm que sair do Ministério Público e ganhar eleições para saber como é que se governa”. De tudo dito no “confronto do século” da quarta-feira 10, em Curitiba, essa fase talvez tenha sido a mais ilustrativa. Não é pouco. Em especial diante do que aconteceu ali. Não aconteceu nada.Só a cegueira militante poderia esperar que Lula e Sérgio Moro protagonizassem um espetáculo de luta no gel. Nem o ex-presidente foi para confirmar as denúncias que pesam sobre ele, nem seu inquiridor, para dar-lhe alguns sopapos. Como bem sabem milhões de outros réus, o magistrado impôs menos o ritmo da oitiva do que se vê nas audiências normais. E o querelado falou mais do que se permite aos seus congêneres nessas ocasiões. Ainda assim, sem surpresas que justificassem tanto oba-oba policial, político e jornalístico.

Devidamente espremidas, aquelas cinco horas repetiram o figurino geral desse tipo de evento, produzindo um conjunto previsível de repetições. Voltando à frase inicial, ele se destaca no oco compulsório da sessão porque define com perfeição a moral dominante na política brasileira. Estrela maior desse universo, o capo petista repetiu a certeza de que governar é conciliar os interesses de quadrilhas partidárias e uni-las em torno de um mesmo projeto de poder, ao custo da pilhagem do Estado. Vale tudo para formar a maioria necessária à “governabilidade”: loteamento de cargos, caixa dois, contratos superfaturados, aparelhamento de estatais, contas secretas, mentira institucionalizada…

Lula não está sozinho. Dessa lógica compartilha a maioria dos figurões que lhe fazem oposição. Entre eles, a sacanagem é histórica e geral. A “arte política” com que Lula desafia quem o investiga não é arte, nem é política. Governar passa longe do que ele ensina e pratica. Se os procuradores quiserem aprender “como é que se governa”, podem consultar o “Corruption Perception Index”. O ranking da ONG Transparência Internacional lista democracias onde há governo, partidos e casas legislativas, mas onde não existe corrupção. À direita, à esquerda e ao centro, corrupção não é destino, é escolha. A escolha de Lula e de seus iguais parece clara.

STF
Não avança

Outra vez na semana passada, o STF não bateu o martelo no julgamento sobre cotas no serviço público. A indefinição causa uma série de problemas, como impedir que concursados ocupem cargos em órgãos federais, estaduais e municipais, bem como impede remoções e promoções dos já contratados. E olha que a paralisação se deu com cinco votos pela constitucionalidade
da medida – a reserva para negros de 20% das vagas em concursos públicos. Políticas afirmativas
só fazem bem para o País.

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Divulgação

Brasil
Desafino na capital

Um aviso para quem for recebido em audiência por Michel Temer e sentir o ar abafado. A conta de energia do Palácio do Planalto não foi cortada por inadimplência. O presidente tem pedido para desligarem os aparelhos de ar condicionado algumas horas por estar com alergia, problema que até afeta a sua voz em determinadas ocasiões. A característica climática dessa época em Brasília realmente não é fácil, para quem vive ou passa por lá.

União
Cofre vazio

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André Coelho

Nem parece que a Advocacia-Geral da União está no topo do Executivo. O orçamento irrisório fará com que o órgão tenha este ano apenas 4% de verba para investimento – outros 96% serão usados no custeio: gastos administrativos e com salários. A ausência de piso em alguns escritórios de representação da AGU nos estados é um atestado da falta de condições ideais de trabalho. Num contraponto às milhares de ações movidas pelo órgão, para cobrar créditos vultosos a favor da União.

Reformas
A caminho

O Palácio do Planalto já recebeu sinalização do Legislativo de que a Reforma da Previdência será votada na última semana de maio. O desejo da equipe econômica era de uma definição já na próxima semana. Aliás, ao saber que a Câmara dos Deputados acabara de aprovar o projeto de renegociação da dívida dos estados por até 20 anos, por placar elástico, Michel Temer não escondeu sua satisfação: “Ôba! Um bom indicativo de que a votação da reforma da Previdência Social será também um sucesso”. PMDB, PSDB e DEM decidirão nos próximos dias se fecham questão em torno do projeto. A pressão por isso é total.

Ética
Hora da verdade

A queixa do presidente da Comissão de Reforma da Previdência Social, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), contra o presidente da Comissão de Ética da Presidência da República, Mauro Menezes, terá como relator José Saraiva, único conselheiro indicado por Michel Temer. Surpreendem as fragilidades por trás do pedido do ex-integrante da tropa de choque de Eduardo Cunha. Entre elas, a de que Menezes seria ligado à gestão de Dilma Rousseff. Afinal, todos na CEP têm mandato e as decisões se baseiam no Código de Conduta da Alta Administração Federal. O assunto será decidido na segunda-feira 22.

Eleições 2018
Desafio

Oficialmente, ela não é pré-candidata. Mas uma sondagem feita no Rio Grande do Sul apontou que Dilma Rousseff terá que batalhar duro se decidir concorrer a uma vaga ao Senado pelo estado – famoso pelo nível de politização de seu eleitorado. Apareceu em quinto lugar nas intenções de votos. Contudo, para entrar nessa disputa ela antes terá que ser absolvida no julgamento que o TSE fará de sua chapa, daqui a pouco.

Política
Porta-voz

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Eraldo Peres

Um dos maiores interessados no assunto, assim que a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que cria o Regime de Recuperação Fiscal dos Estados e do Distrito Federal, na quarta-feira 10, o governador Luiz Fernando Pezão (RJ) ligou do plenário para dar a notícia a Michel Temer. O clima era de alívio e de alegria. Agora, a pressão pelo sinal verde recairá sobre o Senado.

Redes sociais
Data global

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Divulgação

Comemorado nos quatro cantos do mundo, o Dia das Mães provoca todos os anos trilhões de buscas no Google – sendo que 15% do que as pessoas procuram diariamente são relacionados a algum tema novo. Na semana passada, entre as principais buscas dos brasileiros sobre o assunto estavam as mensagens alusivas à data, qual presente dar e qual dia é comemorado. Nas buscas pelo termo “presente”, surgem ideias de como fazer algo associado a sugestões criativas.

América do Sul
Novos tempos

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Marcos Corrêa

“Pela primeira vez em 18 anos, a oposição entra nesse palácio.” Foi esta a frase que Michel Temer ouviu da ativista venezuelana Lilian Tintori, na quarta-feira 10. Lilian é mulher do opositor Leopoldo López, preso há 3 anos e 2 meses em Caracas. Nos anos petistas, o governo brasileiro só deu atenção aos chavistas, cada vez mais contestados no mundo.