Quando me perguntam se sou feminista respondo bem rápido que sim. Ora, se o feminismo é o movimento que defende que homens e mulheres tenham as mesmas oportunidades, claro que sou feminista! Mas hoje há tantas vertentes do feminismo, tantas demandas específicas – todas bastante pertinentes – que o conceito em si já me confunde. Até a definição de gêneros não é mais uma pedra fundamental da discussão. O que torna muito difícil dizer que o sujeito do feminismo é único, certo? Por essas e outras quanto mais leio sobre o assunto, mais descubro que pouco sei.

Talvez justamente por não ser especialista no intrincado mundo do feminismo atual, algumas questões me chamam a atenção. Uma delas é a do uso do corpo. Entendo e apoio os movimentos que pregam que a mulher é dona do próprio corpo e, portanto, pode fazer dele o que bem entender. O que ainda não compreendo é a ressignificação do uso do corpo que estão fazendo as jovens meninas que mandam nudes pelo celular ou se deixam filmar em relações sexuais exibidas em redes sociais. Ou as que anunciam com orgulho que nunca dizem não. Seria uma nova versão da mimetização dos homens?

Se o feminismo é o movimento que defende que homens e mulheres
tenham as mesmas oportunidades, claro que sou feminista. Mas hoje
há tantas vertentes do feminismo que o conceito em si já me confunde

Minha geração, a dos anos 1980, copiou os homens para entrar no mercado de trabalho. Até a moda seguiu a tendência lançando ternos com imensas ombreiras para mulheres! Tudo aquilo fez parte de um processo importante que abriu portas para o respeito e a valorização (ainda capengas, é bom que se diga) do talento profissional feminino. Mas, como tudo tem consequências, a revisão desse comportamento chegou nos anos 2000. Mulheres que adiaram a maternidade lotaram as clínicas de reprodução assistida e muitos valores culturalmente considerados femininos voltaram à moda com força.

Fico aqui pensando. Estaria esse viés do novo feminismo usando instrumentos da conduta sexual masculina, de que somos vítimas há milênios, para atingir a igualdade? Ou estaríamos vendo os primeiros sinais de uma geração para a qual gênero não tem a menor importância por que não existe para ela? Neste caso, estarei feliz de estar virando uma tia que não entende nada. Mas se essa é mesmo mais uma tentativa de igualar os gêneros, agora pela hiperssexualização das meninas, sei não, acho que estamos numa encruzilhada.

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