Uma empresa israelense criou um motor que poderia reduzir consideravelmente o consumo de combustível e ajudar a revolucionar a indústria automobilística, em um momento em que os fabricantes buscam alternativas ambientalmente corretas.

O motor de combustão interna reinventado terá, porém, que enfrentar a forte concorrência dos carros elétricos, cuja tecnologia está avançando e atraindo cada vez mais investidores, apontam analistas da indústria.

A Aquarius Engines garante que seu motor custará apenas 100 dólares e que permitirá percorrer 1.600 km com um só tanque cheio, um distância duas vezes maior do que a dos motores atuais.

A eficiência energética dos motores é essencial no âmbito dos esforços globais para reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2), uma das principais causas das mudanças climáticas.

A tecnologia do motor da Aquarius, composto por menos de 20 peças, substitui os vários pistões do motor de combustão, que se movem para cima e para baixo, por um só pistão que se desloca de um lado ao outro.

Os testes realizados pela companhia de engenharia alemã FEV demonstraram que o motor da Aquarius tinha uma eficácia duas vezes maior do que os motores tradicionais.

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“É provavelmente a maior eficiência que você vai encontrar”, disse à AFP o cofundador da Aquarius Gal Fridman, em um escritório da empresa, perto de Tel Aviv, a capital econômica israelense.

“Este motor tem as emissões mais baixas (de CO2) e a melhor relação peso-potência” do mercado, acrescentou.

A fabricante francesa Peugeot já está em contato com a Aquarius, “assim como com muitas outras start-ups, sem compromisso nem um projeto específico”, de acordo com um porta-voz da empresa.

Este motor poderia ajudar a Peugeot e outras empresas a competirem com a popularidade crescente dos carros elétricos, disse John German, membro sênior do Conselho Internacional para o Transporte Limpo (ICCT).

German afirma que o motor poderia funcionar bem como parte de um carro híbrido (combustível e eletricidade). Para os fabricantes, talvez fosse vantajoso “colocar um extensor de alcance menor e mais barato” junto com uma bateria e um motor.

O especialista ressalta, porém, que o novo motor requereria mudanças nas linhas de produção que poderiam deixar hesitantes as fabricantes de automóveis, um setor pouco proclive ao risco.

Híbridos contra elétricos

Segundo a Aquarius, esta tecnologia também pode ser aplicada a geradores elétricos e outros produtos. A companhia está na sua terceira fase de financiamento do projeto, com o objetivo de arrecadar entre 40 e 50 milhões de dólares.

Mas um dos seus maiores desafios será concorrer com a popularidade dos carros elétricos, diz Ana Nicholls, especialista da Economist Intelligence Unit, que afirma que as evidências mostram que “as pessoas estão começando a deixar de lado os carros híbridos e tender para os veículos totalmente elétricos”.

A fabricante americana Tesla prevê vender cerca de 50.000 veículos elétricos no segundo semestre de 2016.

Segundo Nicholls, as gigantes automotivas, que atualmente têm orçamentos de pesquisa e desenvolvimento reduzidos, podem ser cautelosas em relação a investir no motor da Aquarius.


“Acho que a sensação na indústria no momento é de que, se eles têm de colocar seus recursos em alguma coisa, então provavelmente os motores totalmente elétricos sejam o melhor caminho”, disse.

Mas segundo Fridman, cofundador da Aquarius, os carros elétricos são uma moda, caros demais e pouco variados. “E 50.000 unidades não são nada”, disse em referência às previsões da Tesla.

Embora os governos tenham promovido muito os carros elétricos, “quinze anos depois o setor não está crescendo”, garante.

Franco Gonzalez, analista sênior de tecnologia na consultora IDTechEx, considera que a Aquarius chega um pouco tarde, uma vez que as fabricantes levam “entre sete e dez anos para implementar uma nova tecnologia”.

Assim, uma empresa que escolha o Aquarius “terá que acelerar muito a sua implementação para emparelhar com o que a Tesla, a BYD, a Nissan e outras empresas que desenvolvem modelos de carros elétricos estão realizando”.

Segundo German, o sucesso do motor da Aquarius vai depender muito do rumo que a revolução dos veículos elétricos vai tomar.

“Se as baterias unicamente elétricas venderem bem, então provavelmente não haverá muita necessidade deste tipo de motor”, disse.

“Mas se as pessoas mostrarem relutância em relação ao tempo longo de recarga e aos elevados custos dos carros movidos só a bateria, então sistemas como este podem ser o futuro”.


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