Humberto Gessinger traz para São Paulo sua nova turnê, Desde Aquele Dia – 30 Anos A Revolta dos Dândis, neste sábado, 27, no Tom Brasil. O ex-líder dos Engenheiros do Hawaii, em carreira solo há 4 anos, faz no palco uma celebração dos 30 anos de A Revolta dos Dândis, o segundo e célebre disco de sua antiga banda, lançado em 1987, tocando o álbum na íntegra – mas não seguindo necessariamente a sequência de faixas no bolachão. “Os formatos, à época, eram LP e K7, e ambos ofereciam dois inícios e dois fins: lado A e lado B. O show é linear. Por isso, optei, no show, por abrir o set do disco com A Revolta dos Dândis 1 e fechar com a parte 2. Não é assim no álbum”, explica o compositor, cantor, multi-instrumentista e escritor, à reportagem.

Do disco, saíram grandes sucessos dos Engenheiros, como Infinita Highway, Refrão de Bolero e Terra de Gigantes. E também outras que se tornaram ‘lados B’, que “talvez só os De Fé conheçam”, graceja Gessinger no material distribuído para a imprensa, como Filmes de Guerra, Canções de Amor, Vozes e Guardas da Fronteira. Muitas delas são lembradas e conhecidas até hoje. A que ele atribui a longevidade – e a atualidade – dessas canções? “É um mistério, né? Eu acho que as músicas que ficam são as que conseguem unir o geral ao particular, as contingências do momento com aspectos mais transcendentes”, avalia o músico. “São músicas que oferecem outras leituras além da literal. Por isso emocionam e rompem barreiras de tempo e espaço. Talvez seja isso. Mas nunca se sabe ao certo… E é bom não saber. A dúvida é o preço da pureza.”

Para ele, relembrar e tocar na íntegra A Revolta dos Dândis está mais para o puro prazer de fazê-lo do que pelo senso de importância de revistá-lo. O show estreou no dia 17 de março, para um Vivo Rio lotado. “A tour de lançamento, em 87, foi muito curta, espremida entre o disco que saiu antes (Longe Demais das Capitais, de 1986) e o que veio depois (Ouça o Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém, de 1988). Acho que nunca tocamos o disco na íntegra à época. Está sendo muito legal revisitar os clássicos e, também, as canções menos conhecidas.”

No repertório, Gessinger combinou todas as canções de A Revolta dos Dândis com músicas de várias fases de sua carreira – boa parte delas à frente dos Engenheiros – “que ajudam a unir os pontos de 87 até hoje”, diz o músico, como Pra Ser Sincero, Pose e Dom Quixote.

Nesse panorama das últimas três décadas de estrada, entram ainda as três composições de seu novo compacto, Desde Aquela Noite, lançado este ano. Nele, Gessinger faz seu próprio registro de três canções que já foram gravadas por seus parceiros. “Olhos Abertos é uma parceria com o Capital Inicial de 89. O Que Você Faz à Noite fiz com Dé, então baixista do Barão Vermelho, eles gravaram em 88. A mais recente é Alexandria, que escrevi com Tiago Iorc em 2015. Apesar de geralmente compor sozinho, gosto do desafio das parcerias”, afirma.

Ditadura

O disco A Revolta dos Dândis foi lançado na fase de redemocratização do Brasil, dois anos após o fim da ditadura militar. Aquele período de mudanças no País influenciou, de certa forma, aquele trabalho? “Sem dúvida. E lá fora ainda rolava a Guerra Fria, o lance nuclear… Isso pinta muito nos cinco primeiros discos”, lembra Humberto Gessinger.

Assim, aqueles jovens gaúchos dos Engenheiros, que fizeram parte da histórica cena do rock nacional dos anos 1980, acompanharam de perto a transição da liberdade cerceada ao restabelecimento da democracia. E, atualmente, há quem peça o retorno da ditadura e voltamos a falar em Diretas Já. “A velocidade da informação de hoje engana quem pensa que ela traz, junto, profundidade. Geralmente acontece o contrário”, acredita Gessinger. “Por isso, as grandes verdades devem ser repetidas sempre, mesmo que não sejam originais.”

HUMBERTO GESSINGER

Tom Brasil. Rua Bragança Paulista, 1.281, Chácara Santo Antônio, tel.: 4003-1212. Sáb. (27), às 22h.

R$ 120 / R$ 240

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.