O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) negou nesta quarta-feira, 14, em depoimento à Polícia Federal, ter recebido propina da JBS em troca de se manter calado nas investigações da Operação Lava Jato. Ele prestou depoimento no inquérito que investiga o presidente Michel Temer por corrupção passiva, obstrução da Justiça e organização criminosa.

“Meu silêncio não está à venda”, disse Cunha, segundo o advogado Rodrigo Sanchez Rios, que acompanhou o depoimento. De acordo com Rios, Cunha negou “categoricamente” todas as acusações de pagamento de propina feitas pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS.

Em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), Joesley disse que pagava uma mesada a Cunha e ao operador Lúcio Funaro em troca do silêncio dos dois. Disse ainda que Temer sabia da mesada. Em gravação feita no Palácio do Jaburu, no dia 7 de março, Joesley diz ao presidente que “eu tô bem com o Eduardo”, ao que Temer responde “tem que manter isso, viu”.

“O deputado ressaltou que nunca procuraram ele. Nem o presidente Temer nem interlocutores do presidente. Ele negou categoricamente”, disse o advogado. Segundo Rios, a PF em Brasília enviou 47 perguntas para serem feitas a Cunha. Aproximadamente a metade delas diz respeito à ação que corre na 10.ª Vara Federal da capital federal com base na delação de executivos da Odebrecht que dizem ter pago R$ 17 milhões a Cunha em troca da liberação de recursos do Fundo de Investimento do FGTS.

Cunha não respondeu às indagações alegando que prefere tratar delas no próprio processo. Segundo o advogado, os questionamentos foram extraídos das perguntas feitas pela própria defesa de Cunha a Temer. Na verdade, segundo pessoas que acompanharam o depoimento, Cunha não respondeu objetivamente às 47 perguntas. Ele ouviu os questionamentos e “respondeu de forma geral”, de acordo com um advogado, às indagações referentes à delação da JBS. Além de negar a mesada semanal da JBS, o deputado cassado afirmou que nunca foi procurado para fazer um acordo de delação premiada.

Brasília

No termo de depoimento de Cunha, em que o delegado Maurício Moscardi Grillo registrou perguntas e respostas do intimado e como transcorreu a audiência, consta que o criminalista Ticiano Figueiredo e mais dois advogados de Brasília tentaram acompanhar a oitiva sem estarem legalmente constituídos como defensores no caso.

Figueiredo defende Cunha em processos no Supremo Tribunal Federal (STF). O criminalista chegou à sede da PF, em Curitiba, pela manhã e solicitou aos agentes da escolta federal para falar em privado com o peemedebista, sem a presença do advogado Rios. Os advogados de Brasília conseguiram conversar com Cunha, antes dele ser levado para a sala do delegado.

Grillo proibiu os três de entrarem para acompanhar a audiência, sob o argumento de que eles não eram legalmente representantes de Cunha naquele inquérito. Figueiredo deixou a PF em Curitiba cerca de 20 minutos depois da saída de Rios e evitou falar com a imprensa. Ele se limitou a dizer que, por enquanto, prefere “encarar as denúncias” a fazer um acordo de delação premiada.

Cunha deixou o prédio dez minutos depois. Ele foi levado ao Complexo Médico Penal de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, onde está preso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.