82A semana terminou com dois brasis nas manchetes. O mapa do primeiro registra, entre outros territórios, o Espírito Santo, com cadáveres amontoados nos corredores do Instituto Médico Legal, e o Rio de Janeiro, onde policiais militares ensaiam repetir o motim iniciado no sábado 4, pelos colegas capixabas.

No outro Brasil, que tem a Praça dos Três Poderes como capital, Governo, Congresso e Judiciário devotavam seu tempo a irrelevâncias que incluíam a unção de Moreira Franco ao foro privilegiado, o discurso do presidente da Câmara contra a revelação de seus favores à OAS e a partilha das comissões do Senado – com destaque para a que aprovará o próximo juiz do Supremo, dominada por atingidos pela Lava Jato. Os dois países não falam a mesma língua, não comem a mesma comida, não vivem as mesmas aflições. No desgraçado sobrevivem perto de 25 milhões de desempregados e subempregados,estudantes sem escolas, doentes sem médicos, famílias sem teto. No vizinho, para citar apenas dois personagens, moram o ministro da Educação, com 17 viagens em jatinhos da FAB à sua amada Recife, ou o titular da Saúde, que comprou um terreno no Paraná por valor 16 vezes maior que seu patrimônio declarado ao Fisco.

Os dois lados da fronteira bem poderiam tocar a vida de acordo com a realidade oposta que o destino lhes reservou; mas a desgraça está no fato de que os habitantes da nação infeliz sustentam os do paraíso. Aqueles trabalham cinco meses por ano para honrar impostos devorados pelos insaciáveis vizinhos, dos quais não recebem, em troca, os serviços e produtos contratados.

E a coisa não raro fica pior, quando nativos do tal Estado feliz brigam entre si. São nativos da mesma tribo, como vimos, mas nas suas guerras só jogam bombas em terra alheia. A despeito de justas razões (presentes, aliás, em batalhões de Norte a Sul), os motins policiais não castigam nem governantes, nem políticos, mas cidadãos que já pagaram a conta para sustentar todos eles. Impotente, a sociedade vai levando. Um dia, quem sabe, a coisa muda.

BRASIL
Tiro (fora) do alvo
Na ânsia para atingir Alexandre de Moraes, deputados do PT foram à Comissão de Ética da Presidência. Pediram punição contra os delegados Maurício Moscardi Grillo e Igor Romário de Paula, da força-tarefa da Lava Jato, por terem dito que a polícia “perdeu o timing” para prender preventivamente Lula. Wadih Damous, Paulo Pimenta e Carlos Zarattini deveriam ter se revezado na leitura do Código de Conduta da Alta Administração Federal. Nele consta que delegados não estão no raio de ação da Comissão, que se reúne na terça-feira 21, em Brasília.

CRISE NOS ESTADOS
21 anos depois…
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Antes de reajustar em até 10,22% os servidores de segurança, Luiz Fernando Pezão (foto) ligou para o Planalto e explicou porque fugiu do roteiro de austeridade. Temor que o motim da PM capixaba chegasse ao Rio. O passado condena. Quando governador, Leonel Brizola deu aumento para parcela de servidores. Excluídos foram à Justiça. Em 2014, delegados de polícia, procuradores do Estado e defensores públicos receberam polpudos precatórios.

SAÚDE
Falta de inteligência

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Especialistas vêm questionando porque o Ministério da Saúde não implementa no Brasil a recomendação da Organização Mundial da Saúde, feita há três anos e baseada em estudos consistentes, de que uma dose da vacina da febre amarela é suficiente para imunizar contra a doença. O Brasil continua recomendando duas aplicações. Enfrentando o maior surto das últimas décadas e com dificuldades de abastecer todos os estados, o alinhamento com a OMS já permitiria enfrentar melhor à epidemia e com uso mais racional e efetivo do produto. 

SAÚDE 1
Aliás…

… a ausência de sustentação científica dessa posição do Ministério da Saúde levou o Estado de São Paulo a adotar, unilateralmente, a recomendação técnica da OMS, que o mundo está seguindo. Uma dose imuniza a vida inteira. Se implantada aqui, além de usar menos doses, o próprio trabalho das equipes de saúde seria racionalizado, com o pessoal podendo garantir a vacinação das pessoas nas áreas de maior risco. Acorda ministro!!!

BRASIL
Ficou no limbo
Justifica-se a cara de paisagem de Moreira Franco na semana passada. Fora da chefia do Programa de Parceria de Investimentos, mas sem ocupar a Secretaria Geral do Planalto, não podia assinar um ofício devido às ações no STF contra a sua blindagem. Ficou sem efeito a manobra do PMDB, que esvaziou a Secretaria de Governo antes de Antonio Imbassahy (PSDB) chegar. A Pasta cuidará só de obter votos para o Governo no Legislativo, com o poder de negociar emendas parlamentares. Nacos como a Secom foram para a Secretaria Geral. Nem de longe Imbassahy mandará como Geddel Vieira Lima.

INDÚSTRIA
Despencou
Caiu 15,8% a produção de cigarros no Brasil no ano passado. Índice muito significativo, já que representa cerca de quatro vezes mais para a queda estimada do PIB em 2016. De janeiro a dezembro, 2 bilhões 660 milhões de maços saíram das fábricas, em comparação aos 3 bilhões 160 milhões do período anterior. Também pesa o contrabando. As empresas do setor prevêem que 50% do mercado nacional será ilegal, já em 2020.

AGRICULTURA
Onde guardar

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Tão certo quanto o recorde histórico de 219 milhões de toneladas na safra 2016/2017 de grãos é a certeza do governo federal de que milhares de sacas de milho terão que ser enviadas para o Nordeste até dezembro. A produção agrícola da região será um fiasco. Manter a rede de armazéns públicos da Conab é estratégico para o grão chegar em boas condições e a tempo.

MEIO AMBIENTE
Achado – e pode sumir

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Publicada em periódico da “British Ornithologist’ Union” a descoberta de uma nova espécie de ave no País. Da família do joão-de-barro, o Cinclodes espinhacensis foi visto na cadeia da Serra do Espinhaço, considerada a única cordilheira do Brasil, estendendo-se da Bahia a Minas Gerais. Para os especialistas do Laboratório de Ornitologia da UFMG, o “pedreiro do espinhaço” é uma espécie de “fóssil” vivo. Seus antepassados viviam nessas montanhas. Com o aquecimento global, a tendência é que a espécie seja extinta num futuro próximo, infelizmente.

FINANÇAS
Páginas da vida

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O presidente do Conselho do Bradesco, Lázaro de Mello Brandão (foto), finalmente vai falar. Deu alentado depoimento para o CPDOC da FGV. O teor será publicado em livro, este ano, com o título “Senda de um executivo financeiro”.