A descoberta de que Eike Batista subornava agentes públicos, em especial o ex-governador Sergio Cabral, que, segundo a Operação Eficiência da Polícia Federal, recebeu propinas de pelo menos US$ 16,5 milhões do grupo EBX, escreve um capítulo importante na história do empresário que prometia ser o homem mais rico do mundo, quando o Brasil vivia seus dias de exuberância irracional. Eike se vangloriava de ter feito sua fortuna no mercado privado, sem ajuda do Estado, o que, em tese, tornava sua aproximação com o mundo político mais segura para os dois lados.

De fato, antes de recorrer a empréstimos do BNDES ou do FI-FGTS, Eike montou um império bilionário abrindo o capital de suas empresas e vendendo ações ao mercado. Em quase todos os casos, tratava-se de vento bem embalado por bancos de investimento, auditores e outras instituições financeiras. Eike começou com sua mineradora, a MMX, depois criou uma empresa de logística, a LLX, e bombou de vez com sua empresa de petróleo, a OGX. Por último, criou ainda a companhia de navegação OSX.

Embora fossem projetos ainda no papel, eram vendidos ao mercado como “a nova Vale”, a “nova Petrobras” e assim por diante. Como havia liquidez excessiva no mundo e o Brasil era vendido como “bola da vez”, Eike encontrou terreno fértil para oferecer a investidores incautos – no Brasil e no mundo – suas promessas mirabolantes. Foi só por volta de 2012, quando já sabia que sua bolha iria estourar, que Eike começou a cercar o poder público para tomar recursos do BNDES, do FGTS e para tentar empurrar seus projetos para a Petrobras – o que, graças à resistência do corpo interno da empresa, jamais conseguiu.

Portanto, se agora está provado que Eike corrompeu políticos como Cabral, ainda há uma avenida gigantesca a ser explorada: a corrupção privada do grupo EBX. Quais eram os bancos de investimento que avaliavam suas empresas? O que acontecia se alguém ousasse contestar tais avaliações? Quem, enfim, ajudou a soprar a bolha do século?

Se Cabral movimentou cerca de US$ 100 milhões em propinas, isso é pouco ou nada perto da riqueza que Eike tomou de investidores privados. O estouro do grupo EBX fez desaparecer cerca de US$ 100 bilhões, deixando um rastro de dívidas e projetos inacabados. E até mesmo o Rio de Janeiro, que Eike prometia salvar, herdou um cartão postal às avessas: o esqueleto do Hotel Glória.

O mais perturbador na história de Eike não é a compra de agentes públicos, mas a fraude ao mercado

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