Em um dia comum, o Brasil exporta o equivalente a US$ 63 milhões em carnes para países e blocos econômicos como China, Hong Kong, União Europeia e Arábia Saudita, principais destinos do produto. Na terça-feira 22, porém, apenas US$ 74 mil saíram das fronteiras nacionais. O motivo: ao menos 14 nações e a União Europeia anunciaram algum tipo de restrição à carne brasileira desde que a Polícia Federal deflagrou a operação Carne Fraca. A iniciativa da PF provocou estragos. Hong Kong, China, União Europeia e Chile foram os primeiros compradores a reagir. Os dois últimos se limitaram a suspender as importações de produtos das unidades investigadas pela PF – elas já foram suspensas pelo próprio Ministério da Agricultura –, enquanto Hong Kong e China adotaram a paralisação das importações de todos os produtos e produtores.92

A carne é o terceiro item mais importante da balança comercial brasileira, atrás de grãos e minérios. Em 2016, foram exportados US$ 14,2 bilhões em proteínas animais, e mais de um terço das exportações tiveram como destino China, Hong Kong e União Europeia. Por isso mesmo, as barreiras impostas pelos dois países e pelo bloco europeu são as que mais preocupam os produtores. “As maiores urgências são China e Hong Kong”, afirma Ricardo Santin, vice-presidente de mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal. “Em fevereiro, esses países importaram, respectivamente, 29 mil toneladas e 21 mil toneladas de carne de frango. A manutenção da Europa é muito importante, mas como a suspensão se restringiu a quatro plantas, o impacto financeiro deve ser menor.”

Segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o prejuízo para o setor de carnes pode chegar a US$ 2 bilhões. Isso porque as paralisações devem reduzir de 10% a 15% o volume vendido e também causar a redução de preços no mercado externo. “Os países têm que suspender a importação por obrigação, para dar satisfação aos seus consumidores”, diz José Augusto de Castro, presidente da AEB. “Ficou a impressão de que a carne brasileira tem todo o tipo de problema, enquanto apenas 21 frigoríficos estão sendo investigados, menos de 0,5% dos em operação no Brasil.”
Para especialistas, nem tudo está perdido. O Brasil tem uma carta na manga: não existem concorrentes à altura. “Os Estados Unidos não têm espaço físico para aumentar a produção, a União Europeia é muito pequena, e a China, que seria a alternativa, é importadora”, diz Castro. Além disso, o preço brasileiro é atraente. “Ainda que o dólar tenha caído um pouco, quando comparamos o preço do Brasil a concorrentes como Estados Unidos e Austrália , saímos na frente”, diz Lygia Pimentel, sócia-diretora da Agrifatto.

PERDAS BILIONÁRIAS

Se a deflagração da operação teve efeitos na reputação do País, também causou prejuízos para as empresas. Segundo a consultoria Economatica, em cinco dias a JBS e a BRF perderam em valor de mercado mais de R$ 3,3 bilhões cada uma. Entre a divulgação da operação e até 21 de março, as perdas do setor (incluindo os frigoríficos Marfrig, Minerva e Minupar) totalizaram mais de US$ 7 bilhões. As operações internacionais são vitais para o agronegócio. Cerca de 30% das vendas JBS são por exportações. A empresa está presente em 22 países, como Estados Unidos, Austrália, México e Argentina, e exporta para 150. A BRF tem 19 escritórios pelo mundo e sete unidades industriais na Argentina, Inglaterra e Holanda e nos Emirados Árabes. Mais da metade de sua receita corresponde às operações internacionais.

O setor brasileiro de frigoríficos é reconhecido – e admirado – no Exterior. “Ele é formado por empresas que têm possibilidade de comprar negócios fora do país, e em mercados tão amadurecidos como o americano ou o europeu é difícil ter uma operação sem estrutura organizacional e um grande volume de transação financeira”, diz Marcos Melo, professor de finanças do Ibmec/DF. A recuperação, no entanto, pode demorar. Segundo o professor, as ações voltarão a subir quando houver novamente a expectativa de geração de caixa, o que só ocorrerá quando as exportações forem retomadas a um ritmo normal. “Isso não deve acontecer nas próximas três semanas”, afirma o especialista.

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