Cinco anos e R$ 20 milhões depois, o Edifício Sampaio Moreira, considerado o “avô dos arranha-céus de São Paulo” e localizado no centro da capital, deve ser reaberto no fim do ano que vem completamente restaurado. Pelo menos, de acordo com o atual cronograma.

Atrasos na reforma têm sido recorrentes. A expectativa inicial era de que as obras fossem iniciadas ainda em 2011 e concluídas no ano seguinte. A placa afixada na fachada do prédio histórico traz o ano de 2012 como o de início dos trabalhos e a previsão de 810 dias para término.

O Sampaio Moreira vai abrigar, em seus 13 andares, a Secretaria Municipal de Cultura. Um auditório, uma praça aberta, um jardim interno e um restaurante (na cobertura) também estão previstos no projeto. Mas, conforme a Prefeitura admite, nem tudo será entregue nesta primeira etapa.

O auditório, por exemplo, ainda depende de orçamento e de novas licitações para ter uma previsão de instalação de poltronas e demais mobiliários. A praça, em um terreno anexo ao prédio, de cerca de 400 metros quadrados, também vai ficar para uma etapa posterior.

O projeto em andamento é uma versão simplificada daquele contratado pela administração municipal. O arquiteto Samuel Kruchin propunha a recuperação de toda a pintura ornamental original das paredes interiores, por exemplo. “A atual licitação não contemplou essa recuperação”, afirma o engenheiro Jorge Cecin, superintendente de obras da SPObras.

Igualzinho mesmo ao velho Sampaio Moreira, será apenas o quinto andar. O pavimento, onde ficava o escritório de Christiano Stockler das Neves (1889-1982) – de cujas pranchetas nasceu o edifício, inaugurado em 1924 -, deve se tornar uma espécie de andar-museu.

No terraço vizinho ao antigo gabinete de Neves está previsto um jardim interno, que poderá ser avistado das passarelas projetadas por Kruchin para ligar os dois blocos da edificação. Na sala ao lado, a poesia do tempo é visível nas marcas da parede: Neves dependurava ali quadros e flâmulas; 16 marcas ficaram impregnadas na pintura e devem ser preservadas.

Histórico. Tombado pelo Conpresp, o órgão municipal de proteção ao patrimônio, o Sampaio Moreira sempre funcionou como edifício comercial. Sua fama vem da altura: um gigante para a São Paulo dos anos 1920, ele só foi superado em 1929 pelo Edifício Martinelli, de 30 andares. Em 2008, a Prefeitura desapropriou o prédio por R$ 5,1 milhões.

Não é a primeira vez que ele passa por restauro. Nos anos 1980, foi feito um trabalho de recuperação de sua fachada principal, a parte “melhor conservada atualmente”, conforme avaliam os envolvidos na obra.

São cerca de 30 os operários que atuam diariamente ali. Além de recuperação de pisos, fachadas, forros e fiações, a reforma atual também não prescinde de novas construções. “É preciso adequar, afinal, um edifício antigo ao uso contemporâneo”, afirma a arquiteta Rossella Rossetto, chefe de gabinete da Secretaria de Cultura.

Isso significou, por exemplo, um bloco de escadas de emergência que precisou ser erguido nos fundos do terreno. Ele será ligado por passarelas ao edifício. “Procurei projetar de forma a diferenciar o que é novo, sem interferir nas estruturas existentes no prédio”, explica o arquiteto Kruchin.

De aço, as escadarias ainda não foram protegidas das intempéries, conforme a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo verificou na quinta-feira, 15, em visita ao edifício. “Marcas de corrosão são visíveis”, aponta Kruchin. “Garanto que elas vão receber o ‘fechamento’ em perfeitas condições”, rebate o engenheiro Cecin.

Recursos

Os sucessivos atrasos e o fato de que a inauguração, prevista para o fim do ano que vem, não significará todas as etapas concluídas, já são realidades absorvidas pela equipe. “Uma obra dessa complexidade precisa ser feita com cuidado. É um patrimônio histórico tombado e tudo foi feito com acompanhamento de técnicos do Departamento de Patrimônio Histórico”, afirma Rossella.

“A questão principal, a meu ver, são os recursos alocados na obra. Este tem sido o entrave, e não questões técnicas”, diz Kruchin. “Acompanhei os esforços da atual gestão da cidade, mas ainda há muito chão pela frente. Como autor do projeto, não estou seguro com o que vai acontecer aqui futuramente.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.