A decisão de Washington e Londres de proibir computadores portáteis e tablets nas cabines dos aviões procedentes de sete países árabes e da Turquia provocou nesta quarta-feira incompreensão e irritação entre os passageiros.

“Tiraram meu computador portátil e minha câmera”, protestou um passageiro antes de embarcar no aeroporto de Dubai em um voo da companhia Emirates rumo aos Estados Unidos.

Antes inclusive da entrada em vigor da proibição, prevista para o próximo sábado, o Dubai Airports anunciou que aplicaria “todas as diretrizes regulamentares” emitidas na véspera por Washington.

Estas normas impedem que os passageiros possam levar em suas bagagens de mão qualquer aparelho eletrônico de tamanho maior que um telefone celular como, por exemplo, computadores portáteis, tablets, videogames e câmeras de fotos.

Esta medida afeta todos os voos procedentes de oito países, todos aliados ou sócios de Washington: Jordânia, Egito, Turquia, Arábia Saudita, Kuwait, Catar, Emirados Árabes Unidos e Marrocos.

Pouco depois do anúncio de Washington, o Reino Unido anunciou uma proibição similar que afetará a Turquia e outros cinco países árabes: Líbano, Jordânia, Egito, Tunísia e Arábia Saudita.

Segundo o governo britânico, as companhias aéreas afetadas pela proibição têm até sábado para começar a aplicar a medida.

Até as 00h01 GMT de sábado (21h01 de sexta, horário de Brasília), a medida deverá estar em vigor mas, de qualquer forma, segundo uma porta-voz do ministério dos Transportes, os passageiros “já devem ir ao aeroporto com a ideia de que as medidas já são aplicadas”.

Mas os viajantes ainda desconheciam as condições de aplicação exatas da medida.

“Amanhã viajo aos Estados Unidos em um voo da KLM. Mas não sei se tenho que levar meu computador portátil comigo ou não”, disse Mira Muhanna, uma libanesa de 33 anos que vive em Dubai.

No aeroporto de Túnis, um passageiro que se dirigia ao Canadá com escala em Londres não escondia sua incompreensão. “Isso me irrita porque preciso do meu computador ou do meu iPad. É algo pessoal, por que devo colocá-los no porão?”, se perguntava Riadh, de 33 anos, que teme que seus aparelhos sofram algum dano.

– Motivos de segurança –

Mas as autoridades de Washington são categóricas. “A análise de informação de inteligência indica que vários grupos terroristas continuam tendo como alvo o transporte aéreo e buscam novos métodos para lançar seus atentados, como esconder explosivos em bens de consumo”, disse um deles.

Para o especialista Mustafa Alani, esta decisão “está relacionada às informações reunidas pelo exército americano” durante um ataque contra a Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA) em 29 de janeiro, na cidade iemenita de Yakla.

“Segundo as informações que temos, um grupo da AQPA desenvolveu uma nova tecnologia que permite colocar uma bomba em um computador ou tablet”, explicou esta fonte.

Alani lembra que há anos os serviços secretos sauditas compartilharam informações com Washington que permitiram interceptar no Reino Unido e em Dubai bombas escondidas em impressoras, que a AQPA enviou aos Estados Unidos em um avião de carga.

Até o momento, nenhum outro país seguiu Londres e Washington, mas França e Canadá indicaram cogitar a aplicação de medidas similares. Alemanha, Suíça e Austrália, por sua vez, descartaram a ideia.

Segundo a Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), a proibição de transportar destes aparelhos eletrônicos é um poder discricionário dos Estados membros.

O organismo das Nações Unidas apoia, em geral, “os níveis de conformidade mundial” em matéria de segurança, de modo a “facilitar a mobilidade e a conectividade internacional”.

O anexo 17 da Convenção de Chicago sobre a aviação civil internacional prevê que “os passageiros e as bagagens de mão devem ser inspecionados e passados pelo detector’, lembrou a OACI em um comunicado.

No entanto, é responsabilidade de cada Estado membro “avaliar constantemente o nível de ameaça” que pesa sobre o transporte aéreo e “ajustar consequentemente as normas de segurança”, como faz a própria OACI, disse.

– Motivos comerciais –

Alguns suspeitam que a administração americana, acusada de defender o protecionismo desde a eleição de Donald Trump, tenha imposto esta proibição às três grandes companhias aéreas do Golfo por motivos comerciais.

“Não é uma medida de segurança. É uma decisão hostil contra companhias que têm êxito e competem com as americanas”, afirmou no Twitter o analista Abduljaleq Abdulá.

Para o diretor da companhia de investimentos Kuwait Financial Centre, Raghu Mandagolathur, trata-se de uma “medida protecionista” com o objetivo de “incitar os viajantes de negócios a escolher itinerários através de aeroportos europeus”.

Para o especialista americano Kyle Bailey, “as companhias aéreas americanas vão se beneficiar da medida, já que todas as companhias contam com os viajantes de negócios”.

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