Como ocorreu em 2005, no episódio do mensalão, muitos petistas, ex-petistas e esquerdistas em geral buscam explicações para o naufrágio ético do PT e de Lula, seu líder maior. Recorro a um termo genérico – busca –, mas quero me referir a um estado mental bastante diversificado. A um reexame que tem um pouco de tudo: perplexidade, vergonha, arrependimento e, não raro, um contorcionismo não isento de frouxidão intelectual e sinuosidades ideológicas. Na percepção do jornal Valor Econômico, os petistas históricos estão elevando o tom de suas críticas ao partido. Dentro dessa perspectiva, a edição de 17 de abril estampou uma matéria baseada em conversas com quatro “históricos”: Paulo Delgado, Vladimir Palmeira, Tarso Genro e Eduardo Suplicy.

Os dois primeiros desligaram-se do PT há anos; os dois últimos permanecem no partido, mas admitem estar numa situação desconfortável. A posição de Paulo Delgado é nítida. Além de críticas contundentes à orientação ideológica do partido, ele vai fundo na avaliação de Lula: “A corrupção no Brasil é uma corrupção de bajuladores; a relação de Lula com Emílio Odebrecht é [uma relação] de bajulador”. Vladimir Palmeira, que se desligou há mais de cinco anos, também é crítico,
mas alivia Lula; diz que os Odebrecht querem prejudicá-lo.

Tarso Genro, é crítico, ma non troppo. O ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro de Lula aborda a questão costeando o alambrado, como gostava de dizer o também gaúcho Leonel Brizola: “Sou suficientemente maduro para saber que boa parte das denúncias que são feitas têm apenas a finalidade política de desgastar um partido e um projeto, que se caracterizou [sic] por fazer mudanças em defesa dos direitos dos pobres e dos trabalhadores”. Quarenta e uma palavras para dizer que no fundo tudo se reduz a uma conspiração anti-petista! Da mesma forma, discernir algum sentido crítico nas palavras do ex-senador e hoje vereador Eduardo Suplicy é coisa para iniciados: “O PT está fazendo sim uma reflexão, vendo o quão grave foi o procedimento de pessoas que agiram de maneira a prejudicar o bom nome do Partido dos Trabalhadores. E é importantíssimo que se assegure o direito pleno de defesa previsto na Constituição a quem vem sendo objeto de denúncia [sic] da Lava Jato”.

As explicações para o naufrágio ético do PT e de Lula têm um contorcionismo não isento de frouxidão intelectual