Paisagens Cariocas, o CD que o Duo Santoro está lançando, com concerto neste domingo, dia 21, na Cidade das Artes, no Rio, é uma empreitada familiar. Os irmãos gêmeos violoncelistas Ricardo e Paulo Santoro executam peças escritas para eles, o pai e os filhos, de Sandrino no Choro, de Adriano Giffoni, que abre o disco, a A Bênção, Sandrino, de Leandro Braga, que o fecha, ambas dedicadas ao patriarca, o contrabaixista e luthier diletante Sandrino Santoro.

Aos Santos Oro, em três movimentos, foi escrita por Sergio Roberto Oliveira especialmente para a dupla, assim como Paisagens Cariocas, de Oswaldo Carvalho, dividida em Estação Candelária, Estação Arcos da Lapa e Estação Feira de São Cristóvão. Pedro e Marcela é uma canção de ninar feita por Dimitri Cervo quando os filhos de Ricardo (Pedro) e Paulo (Marcela), hoje com 4 e 3 anos, eram bebês. “Eles têm sete meses de diferença. Se fosse composta hoje, seria mais um forró, algo bem mais agitado”, brinca Ricardo.

A ideia inicial desse trabalho não era autorreferente. Eles queriam apresentar um repertório erudito e popular, e voltado para o Rio de Janeiro. Buscaram então um Tom Jobim (Dindi), um Villa-Lobos (Melodia Sentimental), um Ernesto Nazareth (Brejeiro), um Ronaldo Miranda (Diálogos, feita sob encomenda para dois cellos) e um Ricardo Tacuchian (Mosaicos II, outra encomendada), além do clássico que já tocavam Brasileirinho (Waldir Azevedo) e de Misturada (Airto Moreira|Geraldo Vandré).

Com participação de Cristina Braga (harpa), José Staneck (harmônica) e Ana Letícia Barros (pandeiro), Paisagens Cariocas é o segundo CD em quase 27 anos de carreira como duo. O primeiro, Bem Brasileiro (2013), trazia peças de Villa-Lobos, Francisco Mignone, João Guilherme Ripper, Ernani Aguiar, entre outras. Dessa vez, a geografia se restringiu ao Rio em que os gêmeos nasceram, há 49 anos. O próximo disco será uma homenagem à Itália, terra natal do pai, e só com canções populares.

Ricardo e Paulo começaram a se aventurar pela música pequenos e, na mesma época, sob a orientação do pai. Primeiro na flauta doce, depois ao piano. Sandrino – calabrês filho do marceneiro Pietro Paolo Santoro, com quem veio de navio para o Brasil aos 13 anos, fugido da Segunda Guerra Mundial e aqui formado contrabaixista do Teatro Municipal e professor – construiu então um violoncelo para que dividissem. O contrabaixo seria muito grande para os meninos tocarem e carregarem por aí.

“No início, era uma obrigação. A gente se revezava. No começo, a briga é para ver quem não iria estudar. Queríamos jogar bola com os amigos”, lembra Paulo. A paixão pelas cordas foi cultivada desde os 12 anos. Juntos, eles ingressaram nas faculdades de economia e de música (UFRJ). Juntos, largaram o primeiro curso, depois de dois anos, para depois se formarem em violoncelo em 1989. O mestrado também seria ao mesmo tempo, sendo Francisco Mignone o tema da dissertação de ambos.

A audição e admissão na Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), em 1986, aos 18 anos, também foi lado a lado (no momento, ambos sofrem com a penúria na orquestra, que não paga seus salários desde outubro de 2016 e ainda não se apresentou neste ano). Até o jeito de segurar o instrumento dos dois é o mesmo.

Eles se separam apenas nas formações paralelas – além do Duo Santoro, Ricardo mantém o Trio Aquarius (violino, cello, piano), o Trio Mignone (flauta, cello, piano) e Harmonitango (gaita, cello, piano), e Paulo toca no Quarteto Brasiliana (violino, cello, viola) e no Quarteto Concertante (cello, piano, bateria, contrabaixo).

“Queremos tocar cada vez mais música de câmara, fazer coisas novas. Desde que entramos na OSB, nosso pai sempre disse: ‘Agora vocês vão estudar cada vez mais, não podem ficar limitados à música sinfônica’”, rememora Ricardo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.