Era um dia de inspiração. Após tentativas fracassadas de tomar o poder, Dr. Evil finalmente bolara um plano infalível. Ele sabia qual era seu maior equívoco: angariava inimigos demais ao longo do processo. Seu maior trunfo seria simular bondade, ocultar suas terríveis intenções por baixo do manto do altruísmo.

Seu insight viera da leitura de uma frase de Schopenhauer: “Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será sempre sua presa”. Dr. Evil iria se vestir de santo. Estava disposto a usar muita maquiagem para simular ser outra pessoa. E, com a ajuda de seu Mini Me, traçou as principais bandeiras que adotaria nessa cruzada.

Tinha de parecer, para começo de conversa, o grande defensor dos pobres. Defenderia, então, um elevado salário mínimo, mesmo sabendo que isso colocaria milhões no desemprego ou na informalidade. Teria o auxílio dos sindicatos nessa batalha das “conquistas trabalhistas”. O resultado concreto era irrelevante: Dr. Evil sempre poderia bancar o representante dos pobres.

Na mesma linha, ele tinha de seduzir as empregadas domésticas. Propusera uma lei de inúmeros benefícios, como se residências familiares fossem empresas. Diversas empregadas foram demitidas pela incapacidade de seus patrões arcarem com os novos custos, mas Dr. Evil conseguiu ganhar alguns pontos extras na tabela populista.

Dr. Evil foi um sucesso de marketing. Sua foto circulava nas rodas de maconha da elite jovem e intelectuais divulgavam sua abnegação profunda

Ao notar que a inveja era um sentimento bastante comum, investiu pesado na retórica de pobres contra ricos, como se a riqueza fosse um jogo de soma zero em que João, para enriquecer, precisa tirar de Pedro. Deu certo. Os jornalistas recalcados passaram a falar só de desigualdade, esquecendo que países, com mais ricos por meio do livre mercado, tinham também menos miséria.

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As estatísticas mostravam elevado índice de criminalidade. Dr. Evil teve uma sacada genial: eximir o bandido de responsabilidade por seus crimes. A partir de agora, as armas, objetos inanimados, seriam os grandes vilões, e os marginais seriam tratados como “vítimas da sociedade”. Sempre que um vagabundo matasse alguém com frieza, lá estaria Dr. Evil para pedir mais “educação”, não importa se o assassino fosse da classe média escolarizada.

Com essa estratégia, Dr. Evil foi um sucesso de marketing. Sua foto circulava nas rodas de maconha da elite jovem, banqueiros doavam dinheiro para sua campanha e inúmeros intelectuais divulgavam sua abnegação profunda. Ele era a sensação do momento, ao menos nos bairros mais nobres.

Como tacada final de seu plano mirabolante, Dr. Evil colocou um palhaço chamado Greg como colunista do maior jornal do país, para que ele atacasse os ricos egoístas que desejavam preservar a escravidão. Dr. Evil, mestre do mal, chegava finalmente ao poder, pregando o bem.

 


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