A moda masculina italiana, com profunda tradição na alfaiataria, está em busca de um novo herói. De preferência, que una refinamento e adrenalina, e tenha um estilo de vida deliberante e fora do normal. No mundo ideal, ele é másculo, galanteador, alto e forte, como os 93 modelos que apresentaram a última coleção da Dolce & Gabbana, em homenagem a um gentleman do cinema contemporâneo, o espião James Bond. Além de smokings (figurino oficial do agente 007), surgiram na passarela ternos impecáveis, caftãs em estilo árabe, pijamas estilizados, moda praia e uma linha apoteótica de moda esportiva.

Para entender melhor o espírito do desfile, pense em uma escola de samba, que traz para a avenida diferentes alas seguindo o mesmo tema. É por aí.

O show foi armado no Castelo do Ovo, um dos mais antigos de Nápoles, localizado em frente ao Vesúvio. Ao som de Goldfinger, na voz de Shirley Bassey, a apresentação começou com uma sequência de ternos, blazers e smokings, todos com ergonomia precisa, detalhes em seda pura e confecção em lã fina.

Alguns respeitavam com rigor as características clássicas: grandes lapelas, sempre em cetim de seda preto, faixa estreita também em cetim na lateral da calça e os botões revestidos com o mesmo tecido. Além da gravata-borboleta, lógico.

Os ternos seguiam à risca os preceito da sartoria napolitana, cujas raízes remontam ao ano de 1351, quando foi fundada a confraria dos alfaiates. Paletós foram o ponto alto do show, quase todos com costura dupla feita à mão, ombros moderados e pouco estruturados e mangas franzidas na parte alta para permitir movimentos sem “engessar” os braços. Os looks mais clássicos acenavam para o figurino de Sean Connery, em Goldfinger. Então, começaram as transgressões.

Primeiro, um smoking com a jaqueta em paetê dourado, depois outro com jaqueta de couro de crocodilo. Em seguida, alguns modelos apenas com calção e dorso nu em referência ao físico de Daniel Craig, em Cassino Royale.

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O próximo ato contemplava o universo esportivo e trouxe um teor aventureiro, radical até. Com capacete e macacão dourado, um look fazia alusão ao motociclismo. Peças de seda vieram estampadas com lanchas e automóveis luxuosos. “Isso é a alta moda como um entretenimento extraordinário”, avaliou Susy Menkes, colunista da revista Vogue, com textos em sites da publicação em todo o mundo.

Uma camisa polo, aparentemente comum, trazia o monograma JB e lembrava o personagem de Roger Moore, em 007 Contra O Homem com a Pistola de Ouro. Mais excêntricas, as linhas de caftãs e pijamas de seda, acompanhadas por sapatos loafers de veludo, foram outras grandes apostas.

As marcas globais de luxo hoje precisam conversar com diferentes tipos de cultura e mercado. Por isso, elas lançam desde peças minimalistas e chiques até roupas estampadas e espalhafatosas. “Na Rússia, na Arábia e em países emergentes, a moda decorada e rica em detalhes sempre foi sinônimo de riqueza e poder”, afirma Sérgio Amaral, diretor de redação da revista L’Officiel Hommes.

Desta vez, a dupla de estilistas Domenico Dolce e Stefano Gabbana apostou na imagem do homem alfa, mas não deixou de lado as estampas decoradas e os brilhos. “Foi um desfile sui generis, cheio de looks superlativos”, diz Sylvain Justum, editor de moda da revista GQ, que acompanhou o fim de semana de festas, pizzadas (Nápoles é a terra da pizza) e shows dançantes (Gypsy King subiu ao palco na festa de despedida).

O desfile terminou com uma queima de fogos na Baía de Nápoles. Depois, foi oferecido um jantar às centenas de convidados. “O verdadeiro luxo hoje não está só no produto, mas na experiência que a marca oferece, desde o atendimento até a forma como as peças são entregues aos clientes. Com desfiles como esse, a marca realiza momentos de sonho e alavanca as vendas”, diz Sylvain. Afinal, todo sonho tem um preço.


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