Um grande incêndio continuava devastando nesta quinta-feira a região de Mação, no centro de Portugal, e mobilizava cerca de 900 bombeiros, justamente dois meses depois da morte de 64 pessoas em Pedrógão Grande.

Em todo o país, mais de 1.700 bombeiros, apoiados por cerca de 430 veículos, tentavam controlar uma dezena de focos ativos ao final do dia.

O incêndio mais preocupante continuava sendo o que foi declarado na véspera às portas de Mação, município de cerca de 2.000 habitantes situado cerca de 40 km ao sul de Pedrógão Grande.

Afetado por um primeiro incêndio no final de julho, Mação viu desaparecer entre “80% e 90%” da sua superfície, segundo o prefeito, Vasco Estrela.

Já ameaçada pelas chamas durante a madrugada de quinta-feira, a população de Mação se viu de novo rodeada pelas chamas durante a tarde, segundo um jornalista da AFP no local.

Desde quarta-feira passada, os incêndios nesta parte do país deixaram ao menos 92 feridos, sete deles em estado grave, e cerca de 130 pessoas foram evacuadas dos povoados vizinhos a Mação, Sardoal e Abrantes, indicou a Proteção Civil.

Há uma semana, os cerca de 40.000 habitantes da localidade de Abrantes, situada a 20 km de Mação, também viveram momentos de pânico ao ver as chamas se aproximarem de zonas industriais.

O acesso à rodovia que atravessa a zona estava proibido na quinta-feira. O tráfego foi igualmente interrompido no eixo que une Lisboa e Porto, devido a um foco de incêndio na região de Aveiro (norte).

Ante um clima que faz prever um novo aumento do risco de incêndio nos próximos dias, o governo decidiu, nesta quinta-feira, decretar estado de catástrofe pública em várias regiões do centro e do norte do país.

– Ajuda internacional –

Os incêndios florestais destruíram 141.000 hectares em todo o país desde o início do ano, três vezes mais que a média da última década.

Todos os dias, sob altas temperaturas, milhares de bombeiros lutam contra incessantes fogos, que chegaram a 268 no sábado, um recorde desde o início do ano.

Portugal recebeu novos reforços enviados pela Espanha no âmbito do mecanismo de entreajuda europeia, entre eles quatro aviões anti-incêndio que se somam ao Canadair marroquino.

As autoridades prenderam 91 supostos incendiários desde o início do ano. “A maioria dos incêndios é causada por pessoas, por negligência ou malícia”, apontou a ministra do Interior, Constança Urbano de Sousa.

Com motivo dos dois meses da morte de 64 pessoas em Pedrógão Grande e nos municípios vizinhos de Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, viajaram na quinta-feira à região.

Foram necessários cinco dias para controlar este gigantesco incêndio, que deixou mais de 250 feridos e danificou 500 casas.

Muitas das vítimas faleceram em 17 de junho em seus carros, presas em uma rodovia nacional quando tentavam fugir das chamas que se propagavam a uma velocidade inaudita.

Em resposta aos habitantes locais que denunciam a lentidão das obras de reconstrução, o chefe do governo socialista anunciou na quinta-feira sua intenção de “eximir de autorização os projetos de reconstrução das casas afetadas”.

A tragédia reacendeu também o debate sobre a ineficácia dos serviços de resgate e das políticas de gestão florestal.

O Parlamento adotou em julho vários elementos de uma reforma das florestas que pretende sobretudo reduzir a plantação de eucaliptos, espécie muito inflamável.