Aliados no atual momento político nacional, o presidente Michel Temer (PMDB) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), foram colocados em campos opostos na disputa das eleições municipais em Tietê, no interior paulista. Na terra natal de Temer, o tucano é adversário dos que defendem a candidatura à reeleição do atual prefeito Manoel David Korn de Carvalho, de 31 anos, do PSD, apoiado pelo presidente. O candidato a vice na chapa é do PMDB.

Já para os partidários do candidato do PSDB, Vlamir Sandei, de 57 anos, a ajuda do governador é mais importante do que a de Temer na cidade a cidade de 40,1 mil habitantes e 29.113 eleitores. Na propaganda e nos debates, os candidatos alardeiam o apoio dos respectivos “padrinhos”. “Vlamir Sandei é do PSDB, mesmo partido do governador do Estado de São Paulo. E vai ser por meio deste forte laço com o governador que Vlamir vai construir mais moradias populares”, diz um dos folhetos da campanha tucana.

Em anúncios nos jornais locais, Manoel David dá o troco: “Tietê tem um presidente da República, filho da terra, e o único candidato que pode aproveitar isso em benefício de Tietê é Manoel David”, diz o texto. A propaganda traz fotos do candidato e do presidente lado a lado.

Ao Estado, o prefeito diz que Temer não só apoia sua candidatura, como pretende estar em Tietê até a eleição. “Se não for possível vir antes, ele vem no dia, depois de votar em São Paulo. Ele disse que pretende comemorar a nossa vitória, talvez até me acompanhe na votação”, afirma David.

Segundo ele, um helicóptero do Planalto esteve na cidade, no último domingo, para fazer o reconhecimento. David exibe gravações em que Temer faz elogios à sua gestão e manifesta apoio à reeleição. “Sempre que ele se refere a Tietê, fala de nós. Um dos nossos concorrentes se gaba de ter o apoio do governador, mas quando Alckmin veio aqui, fomos nós que o recebemos. Nós sabemos que o governador tem uma relação muito boa com o doutor Michel.”

A última vez que Temer esteve em Tietê foi no aniversário da cidade, em março deste ano. David diz que ele esteve cinco vezes em Tietê nos últimos quatro anos, uma vez como presidente em exercício. “Em janeiro deste ano, ele me fez uma visita surpresa aqui na prefeitura. Na verdade, ele me ligou avisando que estava vindo e disse que almoçaria comigo, mas que eu pagaria o almoço. Foi o que aconteceu.” O prefeito exibe uma gravação com essa fala de Temer.

Para Sandei, a amizade com o presidente não é exclusividade do prefeito. “Fui delegado de polícia quando o Temer era secretário estadual da Segurança Pública e, na época, criamos uma Delegacia Seccional aqui. Acima de tieteense, ele é presidente da República. Qualquer que assuma o cargo de prefeito aqui terá seu apoio.” Segundo o tucano, o simples apoio do presidente ou do governador não elege um prefeito. “Quem tiver as melhores propostas terá o apoio de Temer e de Alckmin. O governador conhece as nossas propostas e a importância para o município.”

Alckmin não foi a Tietê durante a campanha, mas, segundo Sandei, secretários e deputados do partido fazem a interlocução com o governo. “Tenho um plano de moradias para Tietê que vai ser feito em parceria com o governador. Tietê votou em peso no Alckmin na última eleição e isso, com certeza, reforça a atenção dele com a cidade”, diz o candidato.

O tucano afirma que seu adversário se apega ao apoio do presidente porque não faz uma boa gestão. “Hoje, só para os fornecedores, a prefeitura deve mais de R$ 14 milhões, cerca de 10% do orçamento anual. A maior reclamação nos bairros mais afastados é que a pessoa idosa tem de ir de madrugada no posto de saúde para ser atendida”, afirma Sandei.

Desafios

O prefeito atribuiu algumas dificuldades na gestão à crise financeira e à forte oposição na Câmara, onde ele tem apenas três dos nove vereadores. “Conseguimos melhorar muito a saúde no município. Minha filha, minha esposa e eu somos usuários do nosso sistema público de saúde.” Parentes de Temer, como a prima Cleusa Tamer Schincariol, de 66 anos, dizem que nenhum candidato se elege sem o apoio dele. “Não se pode ignorar que ele é o presidente do Brasil.”

Amigos da família acham que ter o apoio do presidente é um diferencial importante. Kalif Jacob conta que sua avó veio do Líbano com os pais do presidente. “Ele gosta de Tietê e, se tiver um prefeito que seja próximo, fica melhor para a cidade.” Já os eleitores se dividem.

Para a operadora de caixa Joyce Cristina das Neves Santos, de 32 anos, o apoio de Temer dá vantagem ao candidato. “Ele é o presidente e isso tem peso.” O microempresário Hélio Cardia, de 52, apoiador de Sandei, diz que a maioria não gosta do Temer. “Ele nunca levantou um pau para ajudar os tieteenses”, afirma.

David rebate dizendo que foram feitas muitas obras na cidade graças ao apoio do agora presidente. “As pessoas que têm discernimento sabem da importância do prefeito ter boa relação com o presidente da República, mas muita gente tem dor de cotovelo. Neste mandato, conseguimos trazer R$ 48 milhões em obras, muitas delas já concluídas.” Desse total, mais de R$ 40 milhões vieram do governo federal.

Homenagem

O candidato à reeleição faz questão de limpar pessoalmente a placa que ele mandou instalar em homenagem a Temer na Praça Dr. Elias Garcia, a principal da cidade. O pequeno monumento traz o poema O Relógio, do livro Anônima Intimidade, escrito pelo agora presidente. Para o candidato, os versos revelam o apego de Temer à cidade natal. “Ele cita o relógio velho para dizer que também se revigora quando vem aqui.”

As pesquisas realizadas em Tietê e registradas no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) indicam que a disputa vai ficar entre os candidatos do PSD e do PSDB, mas a cidade tem outros dois candidatos a prefeito.

Alfredo Melaré, do PR, diz que, para se eleger, o candidato só precisa mesmo do apoio da população. Já para Marcos Paulo (SD), o Marcão Resolve, é no município que são gerados os recursos do Estado e da União, por isso, governador e presidente têm a obrigação de apoiar os prefeitos, seja qual for o partido. O PT não lançou candidato na terra de Temer, nem mesmo para vereador. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.