A reunião do G20 deveria servir para que a diplomacia americana esclarecesse o rumo do governo Trump, mas o novo secretário de Estado, Rex Tillerson, permaneceu quase mudo, deixando muitas dúvidas no ar.

“Onde está Rex Tillerson? O chefe da diplomacia segue mantendo um ‘low profile'”, afirmou o jornal The New York Times.

“Tillerson permanece em silêncio sobre a política externa americana”, comentou, por sua vez, o alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ).

Extremamente discreto em Washington desde que chegou ao Departamento de Estado, no início de fevereiro, Tillerson deixa a Casa Branca ditar o tom sobre os assuntos internacionais, e este homem, que foi presidente da ExxonMobil, não modificou seu estilo em Bonn nos últimos dois dias.

Em sua viagem à Europa, aceitou que apenas alguns poucos jornalistas acompanhassem-no dos Estados Unidos e praticamente não lhes dirigiu a palavra, em linha com sua conduta em casa. Até agora, ele fez apenas um breve discurso para sua equipe de trabalho e não realizou nenhuma coletiva de imprensa.

O contraste com a loquacidade de seu antecessor democrata John Kerry é palpável.

Esquivo com os jornalistas

Apesar de ter emendado encontros com seus colegas das principais potências mundiais quase em modo “speed dating”, Tillerson não disse praticamente nada em público, deixando seus interlocutores explicarem o ocorrido nessas reuniões.

Também se negou a responder aos jornalistas que o questionavam em suas muitas idas e vindas, parecendo inclusive se divertir com esse jogo de gato e rato.

À pergunta do ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, sobre se estavam sendo gravados por jornalistas que estavam próximos, Tillerson respondeu: “Nunca desistem”.

O secretário de Estado, que chegou ao G20 apoiado por um diplomata de carreira que já tinha um posto relevante no governo de Barack Obama, Thomas Shannon, contentou-se em publicar dois comunicados sobre Coreia do Norte e China.

Em dois dias, apresentou-se diante das câmeras apenas para ler uma breve declaração sobre um tema: as relações com a Rússia. Nela, Tillerson ofereceu cooperação a Moscou, mas apenas se servir aos interesses americanos. Aproveitou para convocar o Kremlin a fazer os acordos de paz na Ucrânia serem respeitados.

Esse engenheiro texano de 64 anos, amador na política e na diplomacia, tem fama de homem forte. Também é considerado próximo a Moscou. Em 2012, recebeu das mãos de do presidente Vladimir Putin a ordem russa da Amizade e se pronunciou contra as sanções à Rússia quando trabalhava para a ExxonMobil, em 2014.

‘Kremlinologia’

Seus colegas do G20 pareciam lutar para entender as posições confusas dos Estados Unidos sobre temas como a questão nuclear com o Irã, ou o conflito entre israelenses e palestinos.

Depois de se reunir com Tillerson, o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Marc Ayrault, disse ser necessária “mais precisão em muitos assuntos; até o momento é tudo muito geral”.

Mas o que Tillerson busca com sua discrição?

“Para os diplomatas ocidentais, a razão de sua prudência é clara. Sua credibilidade desapareceria rapidamente, se tivesse que ajustar sua postura o tempo todo para encaixar com a última linha proveniente da Casa Branca”, afirmou o Frankfurter Allgemeine Zeitung.

As chancelarias especulam sobre a influência real de Rex Tillerson e o fato de saber se fala em nome de Donald Trump.

“O futuro dirá”, comentou o ministro Ayrault.

“Tentar avaliar a relação de forças na administração americana atual é como o que nos tempos da União Soviética chamávamos de Kremlinologia”, brincou um diplomata europeu.

Questionado sobre o que havia obtido deste encontro do G20, Tillerson manteve sua concisão habitual: “Conheci muita gente, fiz muitos amigos”.