As propinas pagas pela Odebrecht beneficiaram até diretores de bancos suíços e levaram à reabertura de investigações no país europeu sobre o papel das instituições financeiras no esquema de corrupção na Petrobras revelado pela Operação Lava Jato, destaca o jornal O Estado de S. Paulo. Delações no Brasil e apurações na Suíça apontam que bancos no país europeu, além de abrir contas com dinheiro proveniente de operações ilícitas, tiveram acesso ao servidor clandestino do Setor de Operações Estruturadas – o departamento da propina.

O ex-executivo Fernando Migliaccio, em sua delação premiada firmada com o Ministério Público Federal (MPF) brasileiro, relatou a função de gerentes de contas secretas na Suíça. Ele contou que funcionários das instituições financeiras esconderam o nome da construtora na abertura de contas e tinham o código de acesso ao servidor baseado no país europeu – o sistema Drousys. Nas transações dos recursos, os executivos dos bancos recebiam 1,5% sobre o valor movimentado.

Migliaccio foi preso na Suíça em fevereiro de 2016 quando tentava fechar contas bancárias e retirar pertences de uma instituição financeira, segundo autoridades do país europeu. Ele voltou ao Brasil com a condição de colaboração com as investigações da Lava Jato. De acordo com o Ministério Público da Suíça, 42 bancos receberam depósitos suspeitos e mais de US$ 1 bilhão foram congelados em mais de mil contas.

Um dos bancos usados pela Odebrecht, segundo Migliaccio, foi o PKB. Um dos diretores da instituição recebeu comissões da construtora e consultou o sistema clandestino de e-mails da empreiteira. O contato comercial, de acordo com o relator, era um “brasileiro, o qual ocupava provavelmente o cargo de diretor”.

Por quatro anos, a Odebrecht operou quatro empresas offshores no PKB: Golac, Smith&Nash, Drumilan e Sherkson. Todas foram bloqueadas ou fechadas pelas autoridades suíças ou fechadas em 2015. Segundo Migliaccio, a empresa jamais aparecia como beneficiária das contas. Ele contou, porém, que, “após a deflagração da Operação Lava Jato, alguma pessoa do banco inseriu a mão o nome da empresa Odebrecht, provavelmente por receio que houvesse alguma consequência mais grave”.

No outro banco usado pela empreiteira na Suíça, o Pictet, havia três offshores responsáveis pela movimentação. “Mas, em 2015, o banco obrigou a Odebrecht a reconhecer que era a beneficiária das contas”, disse Migliaccio.

Investigação

A agência reguladora dos bancos na Suíça – a Finma – confirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que iniciou investigações sobre mais de 20 instituições, sem revelar nomes, diante das revelações da Lava Jato. Parte dos bancos foi alvo de novas recomendações, com a agência sugerindo que o combate à lavagem de dinheiro fosse reforçado. Em três casos, a Finma “constatou a falta de dispositivos para lutar contra a lavagem de dinheiro”. Esses três bancos passaram a ser alvos de inquéritos.

Se condenados, os bancos podem receber multas milionárias. Também existe a possibilidade de que gerentes, de forma individual, sejam levados aos tribunais, com o risco de prisão.

Demissão

A reportagem apurou que o banco PKB já demitiu o diretor supostamente envolvido e indicou que medidas legais foram tomadas contra ele. A mesma instituição, ainda nos casos envolvendo ex-diretores da Petrobras, havia tomado a iniciativa de informar às autoridades suíças os depósitos suspeitos. Segundo o banco, o caso é isolado e “um empregado violou regras internas”.

A reportagem questionou o banco Pictet sobre o motivo pelo qual não pediu antes da Lava Jato que a Odebrecht fosse identificada. “Em linha com nossa política, não comentamos investigações em curso, seja com a participação do Pictet ou não”, informou a assessoria.