Paris, 26/11/2016 – Mais de 4 milhões de franceses simpatizantes da direita e do centro são esperados neste domingo, 27, em seções eleitorais para escolher qual dentre os ex-primeiros-ministros François Fillon e Alain Juppé será o representante do partido Republicanos (LR, conservador) ao Palácio do Eliseu em 2017.

Protagonistas da vida política do país há três décadas, os dois surpreenderam ao eliminar no primeiro turno Nicolas Sarkozy, ex-presidente entre 2007 e 2012. O vencedor será desde já o maior adversário de Marine Le Pen, candidata da Frente Nacional (direita populista), até aqui favorita na eleição de abril e maio.

Embora representem o mesmo partido, Fillon e Juppé são líderes de correntes distintas na direita francesa. O primeiro se diz radical, admira a Dama de Ferro britânica, Margaret Thatcher, e propõe como plano de governo um choque de liberalização do país. O segundo se apresenta como moderado, cultua o líder da resistência e ex-presidente francês Charles De Gaulle e diz ser porta-voz não apenas da direita, mas também do centro. As diferenças ficaram claras no último debate entre os dois, na quinta-feira.

Fillon pregou um “eletrochoque” e uma guinada à direita na França. “Nosso país está à beira da revolta”, disse o conservador, prometendo um calendário intenso de reformas nos três primeiros meses de mandato, seguidas de um plebiscito para aprová-las. “Caso contrário, os franceses virarão as costas à política e nós correremos o risco de ver os extremismos vencerem.”

Já Juppé foi fiel a seu estilo gaullista, de mediação social. “Jamais vencemos uma eleição quando não unimos a direita e o centro”, advertiu. “Se fecharmos a porta aos decepcionados por Hollande e por Sarkozy, não ganharemos nada.”

Poder Apesar das diferenças de estilos e de abordagem, os dois candidatos têm o destino em comum: o vencedor sairá das prévias como fortes chances de se tornar o próximo presidente da França, substituindo o socialista François Hollande no Palácio do Eliseu.

A julgar pelas pesquisas de opinião e pelo resultado do primeiro turno, Fillon tem grandes chances de ser o nome que vai desafiar Marine Le Pen, Hollande – que deve confirmar sua candidatura à reeleição nos próximos dias -, o ex-ministro da Economia Emmanuel Macron (En Marche, centro) e o populista de esquerda Jean-Luc Mélenchon (Insubmissos, esquerda radical).

Católico praticante, representante de uma burguesia contrária ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, Fillon foi premiê de Sarkozy, quando foi apagado pelo então presidente a ponto de ser chamado de “colaborador”, e não de chefe de governo.

Menosprezado ao longo de seus dois anos de campanha, o ex-premiê, de 62 anos, foi protagonista de uma virada espetacular no primeiro turno das primárias ao encarnar uma direita seca, republicana e sem populismos – distinguindo-se de Marine Le Pen. Mesmo que tenha um discurso duro em relação à imigração e tenha frisado a intenção de se afastar mais dos EUA e se aproximar mais da Rússia, Fillon não se deixou contaminar pela onda de críticas à globalização, nem usa a União Europeia como bode expiatório dos problemas do país.

No domingo passado, esse discurso funcionou, levando-o à vitória com 44% dos votos. Juppé obteve 28%. “Os eleitores não votam ao acaso, e quando em uma primária 4,3 milhões de pessoas vão às urnas, é impossível recuperar mais 15 pontos de atraso”, avalia o cientista político Roland Cayrol, diretor-adjunto de pesquisas do Centro de Pesquisas Políticas (Cevipof). “Fillon é o franco favorito.”

Se confirmar esse favoritismo diante de Juppé, para muitos analistas políticos Fillon terá caminho livre ao Palácio do Eliseu graças ao teto eleitoral de Marine – até aqui avaliado em 28% a 29% do eleitorado – e à fragmentação do rival Partido Socialista (PS, centro-esquerda), que contribui para a força da direita.

Quatro membros do governo Hollande almejam a presidência – além do atual chefe de Estado, são pré-candidatos os ex-ministros Emmanuel Macron, Arnaud Montebourg e Benoit Hamon. Além deles, Mélenchon, dissidente do PS que já se lançou candidato. A divisão faz com que nenhum ultrapasse até aqui a previsão de 18% dos votos, o que os posiciona, na melhor das hipóteses, como uma distante terceira força política.

“Haverá uma esquerda dividida entre três ou quatro candidatos”, antevê o cientista político Pascal Perrineau, do Instituto de Estudos Políticos, de Paris. “O suicídio é sempre possível em matéria de política, mas dessa forma o ardor suicida da esquerda será como nunca visto.” (Andrei Netto, correspondente) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.