O ar nunca esteve tão poluído pelo dióxido de carbono (CO2) como em 2015, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), que lembra que o principal gás do efeito estufa permanece na atmosfera por milhares de anos e ainda mais tempo nos oceanos.

Segundo a organização, a concentração média de CO2 na atmosfera chegou a 400 ppm (partes por milhão) no ano passado.

“A barreira de 400 ppm de CO2 já tinha sido atingida antes, em alguns lugares e durante alguns meses do ano, mas nunca antes em escala global e durante um ano inteiro”, acrescentou na segunda-feira a OMM no seu boletim anual sobre gases do efeito estufa em 2015.

Para esta agência das Nações Unidas, o CO2 é o “problema número um”, pois “permanece na atmosfera durante milhares de anos e ainda mais tempo nos oceanos”.

Para o secretário-geral da OMM, o finlandês Petteri Taalas, a luta contra as mudanças climáticas passa “pela luta contra o CO2”.

Atualmente, “o mundo se move na direção errada”, acrescentou Taalas durante uma coletiva de imprensa em Genebra, em referência à subida permanente do nível de CO2 no ar.

O problema de fundo, disse, “é a vontade política”, pois há soluções para reduzir as emissões, e “podemos agir”, ressaltou.

Na Alemanha, por exemplo, as energias renováveis bateram recordes de produção.

As emissões de dióxido de carbono registraram um pico em 2015 devido, principalmente, ao fenômeno climático El Niño, que surge a cada quatro ou cinco anos e provoca o aquecimento do planeta.

O aumento do CO2 foi acelerado pelo episódio do El Niño, segundo o relatório, um “fenômeno que gerou secas em regiões tropicais e reduziu a capacidade de absorção de CO2 pelas florestas e oceanos”.

“O El Niño desapareceu, mas as mudanças climáticas continuam”, advertiu Taalas.

A publicação do boletim ocorre duas semanas antes da conferência da ONU sobre mudanças climáticas que acontecerá em Marrakech, no Marrocos, entre os dias 7 e 18 de novembro.

O relatório pretende “oferecer aos formuladores de políticas elementos científicos nos que eles possam se basear”.

A concentração média de CO2 na atmosfera que se previa para 2015 era de 399,4 ppm, 2,2 ppm a mais do que em 2014, de acordo com o Relatório Anual sobre o Estado do Clima, “State of Climate”, da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (Noaa, nas siglas em inglês), do qual participaram 450 cientistas do mundo todo.

Esta tendência de aumento continuará em 2016, afirmou a OMM, com base nas informações da estação de monitoramento de gases do efeito estufa de Mauna Loa, no Havaí.

Segundo esta estação, as concentrações de CO2 “continuarão sendo superiores a 400 ppm em todo o ano de 2016 e não voltarão a cair abaixo deste nível durante várias gerações futuras”.

“Com a assinatura do Acordo de Paris sobre o Clima, o ano de 2015 constatou a chegada de uma nova era marcada pelo otimismo e a ação pelo clima, mas marcará também um ponto de inflexão na medida em que as concentrações recorde de gases do efeito estufa anunciarão uma nova realidade climática”, afirmou Taalas.

Além disso, a OMM comemorou a assinatura recente em Kigali, Ruanda, de um acordo para eliminar progressivamente outros gases do efeito estufa, os hidrofluorcarbonetos (HFC).