A busca por vítimas chegava quase ao fim neste domingo na Itália, enquanto diminuíam as esperanças de encontrar sobreviventes entre os escombros dos povoados do centro do país devastados por um terremoto que deixou ao menos 291 mortos.

Quatro dias depois do terremoto, as autoridades tentam, agora, avaliar os danos e organizar a vida dos habitantes da região nos próximos meses. Ao menos 2.500 pessoas perderam suas casas no terremoto.

“Nos preparamos para o inverno. (…) Vamos passar o inverno aqui. A princípio em barracas de campanha e, depois, espero que em casas pré-fabricadas”, disse à AFP um sobrevivente, Emidio Chiappini, abrigado em uma barraca da Defesa Civil.

Neste acampamento de tendas de campanha azuis, os rostos são sombrios, apesar dos esforços dos socorristas para fazer algo mais acolhedor no local, com brincadeiras para as crianças e vinho nas mesas.

As autoridades italianas dedicaram 60 milhões de euros em fundos de urgência, aos quais se somam 10 milhões em doações.

A Itália se dispõe também a apelar ao fundo de solidariedade da União Europeia, mas o tempo é curto: o frio vai chegar logo a estas regiões de montanha, e a falta de esperança é crescente.

“Não tenho nenhuma perspectiva”, diz Massimo, outro sobrevivente. “Não fazemos nada durante o dia todo. Tinha o costume de trabalhar quase 18 horas diárias, e agora não temos nada para fazer”.

O chefe de governo, Matteo Renzi, reiterou no sábado, durante os funerais de 35 vítimas, que o governo faria de tudo para ajudar os afetados.

É o que espera Atemio Scienzo, um artesão: “Após a urgência, vem a fase de reestruturação. Isso é o importante. Todos os fundos têm que chegar rápida e integralmente. Se a metade dos fundos se perder no caminho, como ocorre frequentemente, haverá um problema”.

Segundo a imprensa italiana, o governo se dispõe a nomear nesta semana Vasco Errani, antigo presidente da região Emília-Romana – atingida por um terremoto em 2012 -, comissário para a reconstrução, com amplos poderes para tomar rapidamente as decisões operacionais.

– Investigação para compreender –

Ao mesmo tempo, iniciam-se as investigações para determinar a razão pela qual o terremoto causou tanta morte e destruição, quando as normas antissísmicas nesta região de claro risco estão em vigor há mais de 45 anos.

“Em um primeiro momento, os especialistas deverão nos dizer e nos explicar como os edifícios foram construídos e por que foram derrubados. Depois, buscaremos a responsabilidade por trás dos escombros”, declarou o promotor de Rieti, Giuseppe Saieva, ao jornal La Stampa.

A investigação se inicia com os edifícios públicos destruídos e fortemente danificados em Amatrice: a escola (que foi reformada com grandes gastos em 2012), o hospital, o quartel, o teatro…

As promotorias de Rieti – das encostas leste e oeste da montanha – abriram, cada uma, uma investigação por “desastres e homicídios culposos”, que podem gerar julgamentos a pessoas físicas e jurídicas.

Segundo a imprensa, os proprietários que fizeram obras sem autorização em edifícios que caíram ou funcionários que entregaram certificados de conformidade poderão ser levados a julgamento.

“Se os primeiros a cair são os edifícios simbólicos do Estado, como a escola, o quartel, o hospital, isto quer dizer que somos um país generoso na solidariedade, mas incapaz de respeitar as normas”, declarou o presidente do Senado, Piero Grasso.

Antes, é necessário esperar que a terra se acalme: desde quarta-feira, mais de 1.800 réplicas foram registradas, provocando novas rachaduras e quedas.