Ansiosos para pôr fim à “Selva” de Calais, as autoridades francesas deram um ultimato, nesta quinta-feira (27), aos migrantes que resistiam a deixar o local e serem transferidos para centros de acolhida longe da costa inglesa.

Dezenas de migrantes, incluindo menores de idade, caminhavam sem destino hoje entre os escombros da “Selva”, horas depois de o governo da França dar por encerrada a operação para acabar com Calais.

Na quarta-feira (26), as autoridades francesas chegaram a anunciar que não restava ninguém no local, após a retirada de quase 5.600 pessoas do acampamento. A AFP constatou, porém, que dezenas de migrantes dormiram ao relento nessa madrugada, tentando lutar contra o frio.

Escavadeiras começaram a destruir barracos e casas improvisadas abandonadas na parte oeste da “Selva”.

Segundo diferentes associações, entre 2.000 e 3.000 migrantes teriam fugido antes do início da operação de evacuação para se instalar na região, ou em Paris.

“O dispositivo do Estado responde a uma parte das necessidades dos migrantes, mas não às dos que querem ir para o Reino Unido, que não conseguiram asilo, ou que deixaram suas digitais nos registros de outros países” – o que, em teoria significa que devem voltar para esses países – explica o vice-presidente da ONG Auberge des Migrants, François Guennoc.

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Essas pessoas que fugiram da “Selva” vão “acabar voltando” para a região, acrescenta Guennoc.

Com a ajuda de tradutores, pôs-se em marcha um dispositivo para convencer os derradeiros moradores de Calais, disse a representante do Estado na região, Fabienne Buccio.

“É a última proposta que faremos. Depois poderão ser controlados e se expõem a riscos”, como o de serem detidos e posteriormente expulsos, advertem as autoridades.

Buccio garantiu que os trabalhos de demolição e limpeza terminarão na próxima segunda à noite (31).

A Polícia foi mobilizada para impedir que curiosos, jornalistas e migrantes entrassem no local.

As autoridades temem que esse dispositivo excepcional de traslado para centros de acolhida atraia mais migrantes.

“Ontem à noite começamos a ver chegar migrantes de Alemanha, de Paris e de outras partes”, atraídos pela perspectiva de serem transferidos para centros de acolhida, assim como de receber um acompanhamento em seu pedido de asilo, disse Fabienne Buccio hoje.

Até semana passada, entre 6.000 e 8.000 pessoas, principalmente sudaneses, eritreus e afegãos, viviam naquela que era a maior “favela” improvisada de migrantes da França e uma das maiores da Europa. As autoridades francesas começaram a retirar os migrantes na última segunda-feira (24), alegando motivos “humanitários” para desativar esse acampamento insalubre.

Os adultos foram levados de ônibus para abrigos espalhados por todo o território francês, e os menores de idade, para um centro de recepção provisório ao lado do acampamento, enquanto a situação de cada um é examinada.

Alguns migrantes incendiaram seus barracos antes de deixar o local. As chamas afetaram quase todo o acampamento, sobretudo, a rua central, onde as lojas informais terminaram reduzidas a cinzas.

Alguns migrantes que permaneciam na região afirmaram que desejavam pegar os ônibus para seguir até um dos abrigos fora de Calais, ignorando que as operações de retirada terminaram oficialmente na quarta-feira.


Didier Leschi, alto funcionário do serviço de imigração, explicou, em seguida, que dez veículos reservas estão no local para os últimos migrantes.

Outros migrantes, que afirmam ser menores de idade, formavam uma fila nesta quinta-feira para registrar seus nomes e tentar uma transferência ao Reino Unido, onde muitos alegam ter parentes.

A situação dos menores preocupa as associações de defesa dos direitos humanos. O centro com capacidade para 1.500 pessoas – ao lado do acampamento -, previsto para receber os menores até a solução dos casos, está lotado.

Quarenta menores foram levados para um abrigo no leste da França. Está previsto que outros 40 sejam transferidos para o Reino Unido nas próximas horas, afirmou à AFP o diretor geral da associação France Terre d’Asile (França terra de asilo), Pierre Henry.

Os menores se unirão aos mais de 200 que Londres recebeu desde a semana passada.

O Reino Unido pediu ao governo francês que “proteja adequadamente” os menores que seguem bloqueados na zona de Calais.

A ministra do Interior britânica, Amber Rudd, conversou com seu homólogo francês, Bernard Cazeneuve, “para insistir na necessidade de que os menores que permanecem em Calais sejam devidamente protegidos”.


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