Síria e Rússia afirmaram neste sábado que dezenas de civis e rebeldes deixaram a cidade sitiada de Aleppo através dos corredores humanitários, mas moradores e opositores negaram estas informações.

O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) confirmou que neste sábado vinte civis saíram do setor leste da metrópole síria, sitiado, mas insistiu que nenhum deles era rebelde.

“Nesta manhã, dezenas de famílias deixaram (a zona rebelde) através dos corredores (implantados) para permitir a saída dos cidadãos assediados por grupos terroristas nos bairros do leste”, informou a agência oficial Sana, que utiliza a terminologia do regime, que classifica os rebeldes como “terroristas”.

“Foram recebidos por membros do exército e levados de ônibus a refúgios temporários”, acrescentou, explicando que “várias mulheres com mais de 40 anos também saíram dos bairros do leste da cidade pela passagem de Salahedin”.

A agência publicou fotografias de mulheres vestidas de preto acompanhadas por crianças, em fila junto aos soldados, ou embarcando em ônibus.

A rede de televisão Al Ijbariya divulgou imagens de algumas mulheres e crianças atravessando uma rua em meio a edifícios em ruínas.

A Sana também afirmou que alguns combatentes entregaram suas armas, sem informar quantos foram.

Aleppo, com 250.000 habitantes submetidos a um forte cerco desde 2012, é a segunda cidade do país e ex-capital econômica, e desde o início do conflito está dividida em dois.

As forças pró-regime controlam os bairros do oeste e tentam reconquistar os bairros orientais, nas mãos dos rebeldes, bombardeando a zona há meses.

Situação desesperadora

Depois de ter sitiado desde 17 de julho os habitantes dos bairros rebeldes, que sofrem com uma grande escassez, o regime autorizou a abertura de corredores para que os civis e os combatentes que queiram depor as armas saiam da parte leste da cidade.

A Rússia, aliada do regime de Damasco, foi quem anunciou a criação destas passagens. A iniciativa foi apresentada como humanitária, mas os rebeldes, opositores e vários países, como os Estados Unidos, expressaram seu ceticismo.

Moradores e um correspondente da AFP no local não viram sinais de movimento na cidade. As barreiras construídas pelos rebeldes para bloquear as rotas de acesso ao leste permaneciam de pé.

“Aqui estamos na passagem de Bustan Al Qasr. O regime mente”, disse um comandante rebelde local, Yaser Flis, a um correspondente da AFP na cidade.

“Não abriram nenhum cruzamento, nem implementaram nenhuma trégua (…) pelo contrário, aumentaram seus bombardeios”, afirmou.

“Quero sair, mas não para as zonas governamentais. Tenho muito medo de que recrutem meu filho de 17 anos para que faça o serviço militar ou que o enviem ao front”, afirmou Abu Mohamad, de 50 anos, no bairro de Al Shar.

“A situação humanitária é cada vez mais desesperadora e muito dificilmente conseguimos encontrar comida”, acrescentou.

Desde 7 de julho não entra nenhuma ajuda humanitária nos bairros rebeldes de Aleppo, onde existe uma enorme escassez de produtos de primeira necessidade.