A esperança é a última que morre, diz o ditado. Era também o recado da Caixa de Pandora. Os filósofos gregos sabiam que o ser humano pode perder tudo, menos a esperança. Sem ela, caímos no abismo completo, sendo tragados pelo niilismo. A crença no poder de superação é o que nos move, mesmo quando sentimos, como Sísifo, que estamos a carregar pedras morro acima, apenas para vê-las rolar morro abaixo e ter de recomeçar tudo de novo – o cotidiano de todo trabalhador sério no Brasil, que precisa matar um leão por dia para sobreviver e sustentar os privilégios dos marajás.

O STF parece determinado a matar a esperança do brasileiro decente. O povo está cada vez mais indignado, mas há um limite que, quando essa raiva ultrapassa, pode se transformar em apatia, em desesperança. É quando o sujeito sente que nada mais adianta, que todo o seu esforço vai levar a lugar algum, nem mesmo ao prazer de chegar ao topo da montanha, ainda que por um curto momento.

José Dirceu, o “chefe da quadrilha” no mensalão, aquele que continuou a dar “consultorias” mesmo de dentro da prisão, reincidente no petrolão, o revolucionário treinado em Cuba pelo regime mais tirânico do continente, o petista do punho cerrado contra as instituições republicanas, esse mesmo Dirceu conseguiu seu habeas corpus pelo Supremo, o suposto guardião das leis. Os marginais celebraram. O Brasil chorou, aturdido, cansado, derrotado.

Minutos depois da notícia da soltura de Dirceu, o jornalista Diego Escosteguy divulgou que Palocci já havia desistido de sua delação premiada, ou ao menos interrompido a negociação para “refletir”. A reflexão, claro, era fruto da impunidade. Recado dado, recado assimilado. Criminalizaram a política? Não! Politizaram a Justiça…

Sim, o Brasil é o país da impunidade e da esculhambação há tempos. Faz mal à saúde levá-lo muito a sério. Mas nunca antes na história desse país se viu tanto descalabro, e pior: justo numa época em que as expectativas haviam sido alimentadas pela própria operação liderada pelo juiz Sergio Moro. Ao ver alguns figurões na cadeia, o povo voltou a sonhar com a possibilidade de um futuro melhor, de um país mais sério. Ledo engano. A decepção é proporcional ao tamanho das ilusões.

O clima de desesperança aumenta, concomitantemente ao de anomia nas ruas. Ninguém mais acredita em nossas instituições, e sem elas temos apenas o velho “salve-se quem puder”, o “cada um por si e todos contra todos”. Não sou profeta do Apocalipse, nem o responsável por isso. Não atirem no mensageiro. Faço análise, mais nada. Quem está brincando com fogo é o STF, são os caciques políticos em busca de acordão, os petistas que insistem em debochar do povo, o establishment. Vai acabar mal.