Eleições 2016
Democracia sem bala

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Há um fenômeno novo no panorama político brasileiro. Ele se expôs em dimensão inédita na temporada eleitoral que termina neste domingo – na grande maioria das cidades, e terá prosseguimento em outras, onde vai haver segundo turno – com a definição dos vitoriosos entre os mais de 450 mil postulantes a mandatos de prefeito e vereador.

Essa novidade passa ao largo do campo ideológico, programático ou partidário. Não inspira debates, nem almeja conquistar mentes. Seu combustível é o medo. Pela primeira vez de forma tão ostensiva, quadrilhas de perfis diversos atuaram numa campanha com o objetivo de formar bancadas próprias.

Segundo o site “Congresso em Foco”, apenas em agosto e setembro, 20 candidatos foram assassinados em diversas cidades. Só no Rio de Janeiro, em um ano, a polícia contabilizou 16 mortos, enquanto o jornal “O Estado de S. Paulo” identificou 96 vítimas nos nove primeiros meses de 2016, numa lista que inclui, também, cabos eleitorais e assessores diversos.

É fato que a cada dois anos o caminho para as urnas contabiliza atentados aqui e ali. São muitos os registros do gênero na história das eleições, mas o combustível predominante da carnificina sempre foi a rivalidade política entre concorrentes.

O que distingue o cenário atual dos anteriores, além do elevado número de vítimas, é o aumento das ocorrências nos grandes centros urbanos (o interior sempre predominou nas estatísticas) e a natureza dos ataques. Tudo indica que não estamos diante de um agravamento da “clássica” violência eleitoral, mas de claros sinais indicando que o crime organizado acionou seu poder de fogo para inserir-se no campo formal da política, abocanhando fatias da representação parlamentar e do comando da máquina pública. Muitos países já enfrentam essa ameaça e todos pagaram caro, especialmente os que ainda lutam para derrotá-la.

Um erro comum, que encareceu esse preço coletivo, foi menosprezar o risco da situação.

Embora representem gigantesco desafio para a sociedade, as variadas delinquências que convivem com a política no Brasil podem ser derrotada “por dentro” da própria política, através da lenta, mas eficaz, depuração eleitoral e do aprimoramento das leis.

Já a estreia do crime organizado nesse ambiente, com suas escalas e métodos, projeta outro horizonte, ainda estranho a nós, mas, sem dúvida, muito mais difícil de enfrentar.

Gente
Cumpriu a pena

Depois de 36 anos preso, o ex-cirurgião plástico Osmany Ramos ganhou a liberdade na semana passada. Condenado por roubo, sequestro e homicídio, saiu da penitenciária em Mirandópolis (SP) pela porta da frente e está no interior paulista. Atrás das grades escreveu sua autobiografia, que sairá pela Geração Editorial. Osmany quer voltar à medicina, mas antes passará temporada na Noruega com o filho Erik, bem sucedido empresário do ramo automotivo.

Varejo
Sem grife

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“Mercado da vizinhança” é um estudo do instituto GfK sobre como empresários do varejo sobrevivem nesses tempos bicudos: nas prateleiras, marcas menos nobres substituem produtos líderes. Foram ouvidos 400 proprietários de janeiro a março e monitoradas 16 categorias de produtos de consumo básico. As grandes perderam em áreas como arroz, amaciante, detergente em pó e leite longa vida. E sobrevivem em segmentos tipo absorvente higiênico, açúcar e iogurte.

Governo
Língua solta

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É provável que Alexandre de Moraes receba advertência pública da Comissão de Ética da Presidência da República. E isso pode influir em sua permanência no cargo. Informações de governo que um ministro recebe não podem ser utilizadas em ambiente público. E fazer isso em período eleitoral, mais ainda em Ribeirão Preto (SP), que teve Antônio Palloci como prefeito, hora antes do ex-ministro ser preso, é não zelar pela liturgia no mais antigo ministério da República.

Instagram
Dançou na rede

Mônica Iozzi acaba de ser condenada no Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios. Terá que pagar R$ 30 mil a Gilmar Mendes, por dano moral. No instagram, a atriz publicou foto “transpassada” do jurista (com faixa vertical tipo a de estacionamento proibido), associando a imagem dele à prática de crimes de violência social (criticou habeas corpus dado ao médico Roger Abdelmassih – “se um ministro do STF faz isso… nem sei o que esperar”). Foram 14.800 curtidas até maio último. “Opinar na rede pode”, enfatizou o juiz Giordano Costa, “mas houve abuso do direito de liberdade de expressão ao violar a dignidade, a honra e a imagem do autor”.

Indústria
“Made in Asia”

O Brasil é o maior produtor mundial de café e vice no consumo do grão. Poderia virar referência na fabricação e exportação de máquinas que usam café em cápsulas. Mas isso está longe de ocorrer. Resolução da Camex da semana passada baixou de 20% para zero o imposto de importação desses equipamentos para uso doméstico. A cadeia do café no País não ganha escala no agronegócio. Quem fabrica e vende cápsulas do produto faz 60kg valer R$ 18 mil – a saca de boa matéria prima custa R$ 540,00.

Medicina
Fique ligado!

A Sociedade Brasileira de Pediatria incluiu a vacina da dengue no Calendário de Vacinação da Criança e do Adolescente. Segundo a entidade, a imunização é ideal para pessoas de 9 a 45 anos, mas alerta que a proteção se completa com ações governamentais voltadas para o saneamento, a coleta de lixo e urbanização sustentável.  “Assim cairá
a incidência da dengue, evitando internações e óbitos” diz Luciana Silva, presidente da SBP.

Construção
Pura cautela

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A Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Construção não verá o Papai Noel este ano. As vendas vão cair 10%, o que significa voltar aos índices de 2008. São muitas as causas para o baixo desempenho como o desemprego, afirma Walter Cover, que é presidente da entidade. Por isso não surpreende que cerca de 60% dos empresários não pretendem investir nos próximos doze meses.

Artes
Duplo sucesso

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Enquanto arrebata multidões no Teatro Maison de France (RJ) com seu monólogo “O Escândalo Phillippe Dussaert”, Marcos Caruso também faz o maior sucesso em São Paulo com sua encenação para “Selfie”, com Mateus Solano e Miguel Thiré. Num, o libelo contra a manipulaçao da palavra impressa; noutro, a crítica contra a nossa dependência dos “eletrônicos”. Entre um e outro, o ator e diretor é consagrado por público e crítica. Ou seja, está abalando na ponte-áerea.

Cultura
Mãos dadas

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O Iphan vai participar dos esforços para rastrear movimentações suspeitas envolvendo o comércio de obras de arte. Os agentes
do fisco tentam há anos tecer uma malha capaz de inibir a sonegação e a lavagem de dinheiro nesse mercado.
EUA
Aqui e lá
Na véspera das eleições americanas (7 de novembro) a HBO vai exibir “Doações de campanha: o dinheiro fala mais alto?” Um tema está presente nas nossas eleições municipais. O documentário exibe os bastidores da captação de recursos e a atuação dos doadores milionários que sustentam os dois partidos políticos mais importantes dos EUA. A cineasta Alexandra Pelosi tem em seu currículo um Emmy®, com “Journeys with George”.

RG do lixo
Santa Catarina é o primeiro estado a instituir um rígido controle de resíduos industriais no País – uma obrigação legal desde abril. Trata-se de um sistema declaratório, pelo qual as empresas se cadastram e informam o transporte de sobras industriais. Mais de 18 mil empresas do estado já aderiram, responsáveis pela emissão de mais de 320 mil manifestos de transporte de resíduos (MTR). Tudo on line e sem custos para as empresas. Assim, o governo catarinense pode acompanhar, em tempo real, as etapas da cadeia de destinação de resíduos sólidos, incluindo geração, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final. As informações foram divulgadas pela engenheira química Fernanda Corradi, da Fundação do Meio Ambiente (Fatma) de Santa Catarina, em seminário sobre resíduos sólidos organizado pela Abdib em São Paulo. A intenção é que a iniciativa sirva de inspiração para outros estados.

Fotos: Márcia Foletto/Ag. O Globo; Dida Sampaio/AE;