Um dos delatores do esquema de propinas atribuído ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), o doleiro Marcelo Chebar revelou à Procuradoria da República detalhes de como operava uma engenhosa rede de comunicação paralela para tratar de vantagens indevidas para o grupo do peemedebista. Marcelo e seu irmão Renato Chebar controlavam contas secretas de Cabral no exterior, afirma a Procuradoria.

O depoimento foi prestado em 24 de janeiro deste ano. Marcelo Chebar relatou que “ligações telefônicas, por meio de telefones celulares eram raramente utilizadas”.

“Quando se fazia uso dos mesmos utilizavam-se telefones pré-pagos, adquiridos em camelódromos, sem cadastro na Anatel ou nas operadoras, que eram descartados a cada 15 ( quinze dias); Que em camelódromos também eram adquiridos modems de acesso à internet (30 ou 40), também sem qualquer cadastro, para possibilitar o acesso à internet; Que tais modems eram usados pois, além da segurança de conexão, não era necessária muita velocidade de acesso à internet para fazer as transações, pois envolviam, basicamente, ordens de recolhimento e entrega de valores em texto (ex: ‘pegar 1 milhão no endereço xxxx’)”, relatou Marcelo Chebar.

O delator contou que “para evitar a interceptação de comunicações telemáticas também eram utilizadas conexões VPN (virtual private tunnel)”. VPN é uma rede de comunicação particular virtual.

“Outra forma de comunicação é salvar mensagens na pasta ‘rascunho’ de algum e-mail pré-ajustado e duas pessoas entrarem compartilhando a senha; Que tal forma de comunicação evita o trânsito e envio de mensagens; que há aparelhos no mercado que a disponibilizam criptografia no próprio aparelho celular; que tais aparelhos quando conectados a algum dispositivo de extração de dados se autodestroem queimando todo o hard disk”, revelou Marcelo Chebar em seu depoimento.

A engenharia criada para o esquema se comunicar atingia também computadores. O doleiro contou que havia um “programa de computador (software) de preferência”: um encriptador de mensagens multiplataformas.

À Procuradoria da República, o delator afirmou também que “as formas de comunicação frequentemente utilizadas” por ele “eram por meio de aplicativos de celular e programas de computador que criptografavam seu conteúdo”. Segundo Marcelo Chebar, eram usados aplicativos que “permitiam a troca de comunicações de forma criptografada, bem como pelo fato de que possibilitava que as mensagens se autodestruíssem”