Uma das mais influentes personalidades do cinema mundial, Steven Spielberg foi projetado como o mago da fantasia e da aventura no início dos anos 1980, quando dirigiu filmes que marcaram toda uma geração: “Os Caçadores da Arca Perdida” (1981), “ET – O Extraterrestre” (1982) e “Indiana Jones e o Templo da Perdição” (1984). “O cinema me permitiu revisitar a minha infância, o que todo adulto precisa fazer de vez em quando para recuperar a capacidade de sonhar’’, disse o diretor à “Istoé” durante o 69º Festival de Cannes.

Ao longo de sua carreira, o nicho para toda a família teve de aprender a dividir a atenção do cineasta com outros gêneros, sobretudo dramas históricos. Foi com “Império do Sol (1987), “A Lista de Schindler” (1993) e “O Resgate do Soldado Ryan” (1998) que Spielberg ganhou o respeito da crítica e da indústria, provando que podia fazer mais que cinema de entretenimento e fugindo assim da imagem de diretor com síndrome de Peter Pan.

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“Ainda hoje, principalmente depois de filmes históricos e da preocupação em ser fiel aos fatos, preciso recorrer ao poder da imaginação para me sentir livre em set de filmagem”, disse o cineasta de 69 anos na première mundial de “O Bom Gigante Amigo’’, sua nova viagem pelo gênero que não visitava desde “As Aventuras de Tintin” (2011). Em cartaz no Brasil a partir do dia 28, o mais recente filme de Spielberg é também sua primeira parceria com a Disney, estúdio que desde os anos 1920 abraça o universo infantil. “Walt Disney influenciou o meu gosto cinematográfico.

Nunca vou esquecer quando vi ‘Branca de Neve’ pela primeira vez, com sete ou oito anos. Fiquei aterrorizado e maravilhado ao mesmo tempo”. “O Bom Gigante Amigo” é uma adaptação do livro infantil homônimo publicado em 1982 por Roald Dahl (também conhecido por “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, “James e o Pêssego Gigante” e “Matilda”). Na linha de “ET”, por apresentar uma amizade improvável, a trama segue os passos da garota (Ruby Barnhill) que é levada do orfanato por criatura da terra de gigantes (Mark Rylance), a única que não come crianças.

“Essa foi uma história que eu li para os meus filhos quando eles eram pequenos”, disse Spielberg, que tem sete filhos: seis com a atual mulher, a atriz Kate Capshaw, e um com a atriz Amy Irving, sua ex. Orçado em US$ 140 milhões, o novo filme não
foi o sucesso de bilheteria imaginado. Em sua abertura nos EUA, no feriado de 4 de julho, arrecadou apenas US$ 18,7 milhões – bem atrás de “A Lenda de Tarzan”, que estreou com US$ 38,5 milhões. Para se recuperar, o marketing da Disney está apostando no mercado internacional, sobretudo na Ásia e na América Latina, onde “O Bom Gigante Amigo” ainda não desembarcou.

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Entrevista com Steven Spielberg

“Tenho até medo do poder do cinema”

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Por que as crianças têm sempre algo a ensinar em seus filmes?
Gosto de pensar que, quando garoto, eu era muito inteligente (risos). Quando somos crianças, todos nós achamos que sabemos mais que nossos pais. Estamos errados, claro, mas só percebemos isso quando temos filhos e eles começam a fazer o mesmo conosco. É um ciclo vicioso.

Como se sente por ter marcado o imaginário de crianças e adolescentes dos anos 1980?
Com “ET”, percebi como um filme é capaz de expandir a família do cineasta, agregando pessoas, de outras línguas e com outras histórias de vida, fazendo todos sentirem a mesma coisa. Tenho respeito e até medo desse poder do cinema. É simplesmente maravilhoso quando isso acontece.

Depois de tudo o que fez, o que o mantém motivado para contar novas histórias no cinema?
Não corro atrás de dinheiro, mas sim da chance de encontrar uma grande história que não tenha sido contada ainda. Vejo o mundo como um explorador, sabendo que, ao virar uma esquina, posso me deparar com o tema de meu novo filme.