Entre outros tesouros, Leonardo da Vinci (1452-1519) deixou para a humanidade desenhos de objetos que só se materializariam séculos depois, como o helicóptero. Na semana passada, outra demonstração da genialidade do artista italiano foi revelada com o anúncio da descoberta de um novo órgão no corpo humano. Localizado no abdome, o mesentério é uma dobra dupla do peritônio, o revestimento da cavidade abdominal. Até hoje, era visto apenas como um ligamento do aparelho digestivo, mas estudos realizados ao longo de seis anos pelo irlandês John Calvin Coffey, da Universidade de Limerick, na Irlanda, demonstraram que ele é mais do que isso. “É, na verdade, uma estrutura única e contínua, ao contrário do que pensávamos”, explicou o médico. “Trata-se de um órgão.”11

Funções desconhecidas

Em suas magistrais ilustrações sobre o corpo, da Vinci antecipou o que a ciência agora referenda. Entre suas anotações, está uma na qual ele dedica ao mesentério um desenho próprio, incrivelmente parecido com o órgão descrito na semana passada. As anotações de da Vinci a respeito da anatomia humana seguem até hoje exercendo fascínio. No Homem Vitruviano, espetacular desenho criado por volta do ano de 1490, o artista retrata uma figura masculina sobreposta em duas posições diferentes. Os traços são considerados uma das mais refinadas demonstrações das proporções do corpo feitas até hoje.

Os registros de da Vinci são fruto de sua curiosidade sobre as formas humanas – característica que marcou os artistas do Renascimento, período no qual a figura do homem readquiriu relevância, enfraquecida na Idade Média. Ao longo da vida, ele dissecou pelo menos vinte cadáveres no intuito de conhecer o interior do organismo. A descoberta de Coffey, cerca de cinco séculos depois, aconteceu após análise anatômica – muito com base em exames de imagem – e funcional/metabólica do mesentério. O mistério que ainda persiste é saber para que serve o novo órgão. “É preciso decifrar como ele funciona e qual seu papel”, diz o médico Sérgio Roll, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. A princípio, acredita-se que pode ter impacto na diabete tipo 2 ou na Doença de Chron (patologia inflamatória que atinge o intestino).

13


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias