Por Paola Mentuccia ROMA, 23 MAI (ANSA) – Os filmes “Chez nous” (A Casa nostra”), do belga Lucas Belvaux, “HyperNormalisation”, do britânico Adam Curtis, e ” Populisme, l’Europe en danger” (“Populismo, a Europa está em perigo”), do documentarista Antoine Vitkine, analisam o discurso e as dinâmicas dos partidos populistas, cuja ascenção coincide com diversos anos de crise ecônomica, e alertam sobre os perigos da construção do pensamento único.   

Segundo Belvaux, “o populismo é a recusa da complexidade das coisas”, e a personagem principal de seu longa, que narra os bastidores de campanha eleitoral de um partido de extrema-direita no norte da França, é uma líder loira e autoritária, interpretada por Catherine Jacob, que lembra a ultracionalista Marine Le Pen.   

Ao invés de criar um documentário informativo, o diretor belga preferiu fazer um filme com roteiro, uma história e um protagonista para retratar e representar da melhor maneira o populismo na Europa e, em particular, na França.   

“Eu escolhi a ficção porque você pode tocar as pessoas, tem uma abordagem mais analítica e íntima. O voto da Frente Nacional (FN) é por impulso e pode representar a capacidade de entrar na vida das pessoas”, disse Belvaux.   

“Chez nous” retrata a vida de uma enfermeira muito amada por seus pacientes, que é escolhida como candidata nas eleições municipais em sua pequena cidade, no norte da França. Por meio de discursos persuasivos dos líderes e expressões mais extremas e mais longes de valores progressistas, ela é convencida na esperança de impulsionar uma mudança no local.   

“Estamos em um período de crise profunda econômica e, sobretudo, ideológica. As pessoas não podem se adaptar a uma mudança tão repentina, sentem-se ameaçadas de extinção do mundo exterior. Os partidos populistas, neste momento, estão às custas de soluções aparentemente simples e imediatas”, explicou.   

De acordo com Belvaux, os populistas “vão continuar a fazer as pessoas acreditarem até que eles cheguem ao poder”, assim como acontece com sua personagem principal, que se torna um símbolo de uma geração: “a pós-ideológica”.   

“A derrota da esquerda ocidental, que desistiu de ideais considerados utópicos, impossíveis, porque aceitou universalmente um liberalismo que tinha vencido na França, e até mesmo na Itália, havia mais contradições políticas, mas estava na frente de um sistema dominante”, acrescentou. No filme, é evidente a crítica amarga do diretor para a “ausência de uma ideologia esquerda sólida”, o que é vísivel em uma manifestação de radicais em que os militantes não aparecem.   

O populismo “prospera precisamente onde as outras forças políticas falharam”. No entanto, no mais recente trabalho do diretor belga, embora politicamente engajado, ele não quer um filme militante. Lucas Belvaux quer contar a dinâmica de “um partido que ele percebeu que poderia alcançar o poder alterando sua cara e mostrando a imagem de renovação de uma jovem sorridente”, explicou.   

Seu interesse é compreender “como um grupo de extrema-direita consegue ganhar aprovações nas classes mais populares compostas por muitos filhos ou netos de imigrantes”.   

O poder e como ele funciona na sociedade sempre foram os principais temas do documentarista britânico Adam Curtis. Ele próprio descreve seu trabalho como jornalismo por meio de filme.   

Seis meses atrás, a plataforma “BBC iPlayer” lançou seu mais recente longa, ‘HyperNormalisation’, o qual traça uma rota entre a Síria e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.   

A produção dura quase três horas e explora a falsidade da vida moderna em uma história iniciada na década de 1970, que examina as origens do “apocalipse sírio”, o crescimento do nacionalismo, a política do presidente russo, Vladimir Putin, e seu homólogo sírio, Bashal al-Assad, e o modo em que o governo ocidental explora o terrorismo para exercer o controle.   

No filme, o documentarista põe em movimento um labirinto narrativo político, colocando os holofotes em um século de caos, encontrando os “poderes invisíveis” que liderou a história moderna e proporcionou ao público, pouco antes das eleições norte-americanas, uma espécie de prefácio do “novo capítulo de vida dos Estados Unidos: Donald Trump”. (continua…) (ANSA)