SÃO PAULO, 4 JUL (ANSA) – Por Tatiana Girardi – Às vésperas de sediar o encontro do G20 em Hamburgo, a chanceler alemã, Angela Merkel, tenta reunir apoio dos líderes das 20 maiores economias do mundo para enfrentar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.   

Merkel já anunciou que os impasses sobre os acordos climáticos e a defesa do livre comércio estarão no centro da agenda do G20, que ocorre entre os dias 7 e 8 de julho. Ambos os temas foram rejeitados em cúpulas internacionais recentes por Trump, que se nega a assinar acordos para reduzir a emissão de gases poluentes e para promover o comércio global. Para acirrar a disputa ao estilo “cabo de guerra”, a coalizão formada pelos partidos União Democrata-Cristã (CDU), de Merkel, e a União Social Cristã (CSU) retirou do programa de governo alemão os termos “amigo” e “amizade” ao se referir aos Estados Unidos. Foi mantida apenas a referência aos EUA como “o parceiro mais importante ” da Alemanha fora da União Europeia. Nesse clima de enfrentamento, Merkel e Trump devem disputar a atenção das maiores economias do mundo e da mídia internacional, em uma tentativa de provar “quem tem mais força”.   

De acordo com o professor de história e relações internacionais da Unesp Luis Fernando Ayerbe, Merkel assumiu uma postura “mais afirmativa” em relação a Trump, que, desde que tomou posse, em janeiro, demonstrou antipatia pela alemã. “‘Trump não é permanente, não é eterno’, esse tem sido o pensamentos de muitos governantes, inclusive Merkel”, comentou o especialista. A mudança de posicção ocorreu logo após a participação de Trump na cúpula do G7, em Taormina, na Itália, e nas reuniões da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Em ambas as ocasiões, o magnata obstruiu as negociações e impediu uma declaração final oficial das reuniões. “Pensando nesse último momento, em que Trump teve uma reunião com uma postura desrespeitosa com relação à Otan e à Europa, Merkel passou a assumir algo mais afirmativo, sem ter falta de diplomacia. Com a postura mais afirmativa, tentando criar um consenso europeu e para colocar limites além da Europa”, afirmou Ayerbe à ANSA.   

Segundo o professor da Unesp, os governos europeus, liderados por Merkel, começaram a pensar “no curto prazo, no médio prazo e em um mundo em que os Estados Unidos sejam governados por outro presidente”. ” O governo dos EUA vai passar, pode durar um pouco mais ou um pouco menos, mas é passageiro”, destacou o especialista. Outro aspecto que deverá chamar a atenção durante a cúpula do G20 é a postura que Trump adotará diante dos líderes da Rússia, Vladimir Putin, e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, com as quais têm mantido posicionamentos intercalados entre amistosos e conflituosos. “A gente sabe qual vai ser a postura europeia, que não é agredir ou constranger Trump, especialmente por Merkel e [Emmanuel] Macron, mas a incógnita é sobre como vai se comportar Trump. É isso que precisamos prestar atenção, sobre como isso vai se manifestar na declaração final”, pontuou Ayerbe. Além disso, a China já mostrou, durante uma recente reunião com os líderes europeus, que está alinhada ao bloco nas questões das mudanças climáticas e dos acordos comerciais de globalização, confrontando diretamente os Estados Unidos. “Acho que a capacidade de articulação dos Estados Unidos está um pouco comprometida. De repente, consegue apoio de Estados pequenos. Mas, em termos de grandes interlocutores da Europa, mais a China e a América Latina – que tem México, Argentina e Brasil – como que vai ser a capacidade de Trump de conquistar seguidores com posturas radicais?”, questionou Ayerbe. As respostas começarão a surgir na próxima sexta-feira, data de abertura da cúpula. (ANSA)