O procurador-geral Rodrigo Janot apontou sua metralhadora para toda a cúpula do PMDB, incluindo figurões como o ex-presidente José Sarney e os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR), mas os movimentos recentes do Poder Judiciário, tanto em Brasília como no Paraná, que parecem articulados, indicam que a bola da vez é o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Até porque ninguém acredita que Sarney receberá uma tornozeleira eletrônica, aos 86 anos, apenas porque indicou um advogado a Sergio Machado, o ex-presidente da Transpetro que se converteu em espião. Ou ainda que Renan, presidente do Congresso, será preso por defender uma mudança legislativa, a alteração da lei das delações premiadas, que ele já havia sugerido publicamente. Jucá é quem mais se complica nos áudios de Machado, ao defender “estancar a sangria” da Lava Jato, mas não parece ser um alvo prioritário.

Quem realmente está na mira é Cunha. Isso ficou claro com a denúncia formulada pelo Ministério Público paranaense contra sua esposa Cláudia Cruz. Nela, há os dados constrangedores sobre gastos de quase US$ 1 milhão com roupas de grife e artigos de luxo e ainda a desmoralização da tese de que os trustes na Suíça não seriam contas no exterior. Para os procuradores, Cunha adotou métodos de modernos criminosos.

Em paralelo, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, deu cinco dias para que ele apresente sua defesa no processo relacionado à contratação de navios-sonda pela Petrobras, em que Cunha é acusado de receber US$ 5 milhões do delator Júlio Camargo. Se isso não bastasse, outro delator, Fábio Cleto, ex-diretor da Caixa indicado por Cunha, apontou contas no exterior ligadas a propinas do FI-FGTS, um fundo que era gerido pelo banco. Esta delação poderia levar até a outros parlamentares que fazem parte da numerosa “bancada de Cunha”.

O cerco parece ter se fechado de vez e, mesmo que ele escape da cassação, nada indica que terá devolvido o seu mandato – o que abre espaço até para sua eventual prisão, pedida por Janot. O que ninguém sabe ainda ao certo é como a queda de Cunha afetará o governo interino de Michel Temer.