Um novo estudo de cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco sugere que, além do mosquito Aedes aegypti, o pernilongo comum, Culex quinquefasciatus, pode ser capaz de transmitir o vírus da zika. A conclusão vai na contracorrente de outros estudos já realizados anteriormente sobre o tema.

Como o Culex, assim como o Aedes, é comum em áreas urbanas, os cientistas questionam se o pernilongo também seria capaz de transmitir o vírus – o que explicaria o espalhamento extremamente rápido do zika durante a última epidemia.

Segundo os autores do estudo, a habilidade do Culex para transmitir o vírus foi avaliada em comparação com a competência do Aedes para a transmissão. As duas espécies de mosquitos foram infectadas em laboratório e os cientistas detectaram a presença do vírus no intestino médio, nas glândulas salivares e na saliva das duas espécies.

Além disso, os pesquisadores coletaram exemplares de Culex infectados com zika em áreas urbanas do Recife e, segundo eles, conseguiram realizar pela primeira vez um sequenciamento genômico parcial do vírus isolado com base no pernilongo.

O estudo, liderado pela pesquisadora Constância Ayres, foi publicado ontem na revista científica Emerging Microbes & Infections, do grupo Nature. “Em conjunto, nossos resultados sugerem que essa espécie (o Culex) é provavelmente um vetor do zika no Brasil, o que tem diversas consequências para as estratégias de controle do vetor”, escreveram os autores.

No artigo, os próprios autores reconhecem que diversos outros estudos tiveram resultados opostos. Eles argumentam que “é razoável concluir que a variabilidade genética da espécie de mosquito em diferentes regiões geográficas poderia explicar essa aparente discrepância nos dados.”

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O mesmo grupo já havia publicado, em 2016, estudos que sugeriam a transmissão pelo Culex, mas outros grupos rebateram as conclusões, segundo o professor de Virologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) Maurício Lacerda Nogueira. “O fato de terem encontrado o vírus na saliva é uma indicação importante de que pode haver transmissão. Mas ainda não sabemos a importância disso e será preciso explicar as discrepâncias com outras pesquisas. O grupo da Fiocruz do Rio é categórico em negar a transmissão, assim como grupos estrangeiros”, disse Lacerda à reportagem.

Grupos independentes

O virologista Paolo Zanotto, da Universidade de São Paulo (USP), diz que, para provar a transmissão, os resultados precisam ser replicados por grupos independentes em outras áreas do País. “O grupo da professora Constância deve ser encorajado, por fazer um trabalho importante, com resultados cada vez mais robustos. O problema é que são opostos aos da maior parte dos estudos – e para ir contra um paradigma é preciso apresentar provas muito contundentes.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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