A crise carcerária que mantém o País em vigília trouxe à tona o temor de uma ofensiva iminente de facções criminosas, como a que aterrorizou São Paulo em maio de 2006.

O Primeiro Comando da Capital (PCC), criado em 1993, desatou em 12 de maio de 2006 a maior onda criminal já registrada no Brasil, atribuída ao plano de transferir Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da facção, assim como outros 700 dirigentes do grupo, a presídios de segurança máxima.

Os membros do PCC atacaram delegacias e veículos policiais e no dia seguinte estenderam os atentados ao interior do estado. Em três dias, foram registrados 200 ataques, que deixaram cerca de 90 mortos.

Em 15 de maio, a população de São Paulo, amedrontada pelo poder de fogo do PCC e pelos boatos, abandonou seu trabalho. Escolas e universidades fecharam as portas e o transporte público parou de funcionar, obrigando milhões de pessoas a voltar para casa a pé. Em pleno dia, a ruidosa metrópole ficou literalmente deserta.

As atividades se normalizaram no dia seguinte, após uma reunião entre “Marcola” e autoridades estaduais, cuja realização foi confirmada pelo próprio governo.

Outros ataques de menor envergadura ocorreram nos dias seguintes. Alguns balanços calcularam mais de 500 mortes em duas semanas. Entre os mortos estavam policiais, membros do PCC e simples pedestres.

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Na semana passada, o portal de notícias UOL revelou um informe de Inteligência do governo de São Paulo alertando sobre os preparativos do PCC de lançar uma onda de ataques. A data escolhida teria sido a terça-feira, 17 de janeiro. O secretário de Segurança Pública, Mágino Alves, afirmou em seguida que, após verificações, “não foi detectado nenhum movimento que justifique este temor”.

A atual crise carcerária teve início com uma disputa entre o PCC e outras facções, a começar pelo Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, pelo controle do narcotráfico. Os conflitos deixaram mais de 130 mortos desde o início do ano resultantes de brutais acertos de contas.

As máfias ou a “ideologia do lucro”

O jurista Walter Maierovitch, ex-secretário nacional antidrogas (1999) e presidente do Instituto de Ciências Criminalísticas Giovanni Falcone, acredita que os sucessivos governos, federais e regionais, fizeram pouco ou nada para evitar que uma situação como a de 2006 se repita, “fora de acordos com o crime organizado, que não se devem fazer”.

“O Estado sempre atua depois da porta (estar) arrombada. Deixou os presídios nas mãos das organizações criminosas”, afirmou o jurista à AFP.

Mas isto não significa que o PCC vá preparar novamente um golpe desta envergadura.

“Difícil imaginar a lógica das organizações criminosas”, disse Maierovitch, lembrando que a máfia italiana se submerge quando há uma ofensiva contra ela para ressurgir quando as águas se acalmam.

Além disso, continuou, no Brasil não existe “nenhum serviço de Inteligência penitenciária, como na Itália”, o que dificulta prever os golpes.

O único certo é que “a ideologia das organizações criminosas é sempre o lucro”, concluiu.


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