Um grupo de corredores atravessa uma estrada; um táxi vai em direção a eles e atropela o grupo, derrubando os integrantes como pinos de boliche: o vídeo desta cena viralizou na China, ilustrando os perigos que os amantes da corrida precisam encarar no país mais populoso do mundo.

Acidentes, poluição, ruas esburacadas, calor infernal e frio extremo… a China não parece ser o destino dos sonhos para quem gosta de correr.

Mesmo assim os chineses, principalmente das classes sociais mais altas, estão cada vez mais aderindo ao jogging. Maratonas são organizadas quase que diariamente em todo o país.

“Se eu não correr me sinto mal, fico de mau humor e não sou tão eficiente no trabalho”, explica Shao Yanna, uma jovem de 29 anos que encara o asfalto de Xangai em ritmo forte e em pleno verão, ao lado de um grupo com dezena de homens e mulheres.

“Faz calor e suo muito, mas a gente se diverte e me sinto cheia de vida e energia”, completa Yanna, minimizando os efeitos do verão em Xangai, embora o termômetro aponte 40 graus em julho na capital econômica chinesa.

Esta atleta amadora trabalha com marketing e dribla as multidões nas ruas, sem parar de correr. Para Yanna, a poluição é mais assustadora do que o calor: ela afirma consultar a qualidade do ar antes de encarar as ruas, preferindo usar a esteira de casa caso os níveis de partículas nocivas estejam muito elevadas.

– Orgulho –

Sinal da jovem paixão dos chineses pela corrida, as provas de maratona vêm se multiplicando nos últimos anos. A associação chinesa de atletismo registava 20 provas por ano no início da década, contra 400 em 2017 – um número que deve dobrar até 2020.

Mas correr nas ruas ainda é visto com desconfiança pelos mais velhos e Yanna garante que ainda recebe olhares atravessados. “Tenho orgulho, porque estou fazendo algo que eles não têm coragem de fazer. Correr está na moda. Se você corre, é porque está ligado”.

Isso, claro, se conseguir escapar dos barbeiros do volante. No vídeo que viralizou na China, o motorista de táxi desatento matou pelo menos uma pessoa no mês passado, na província de Shandong (leste).

Correr se tornou “cool” entre os jovens trabalhadores dinâmicos, que veem neste esporte um meio de liberar as tensões do dia a dia, explica Xu Yun. Ele ensina a técnica do jogging na academia “Running Cat”, em Xangai.

– Correr para se destacar –

O regime comunista encoraja a disciplina no intuito de promover uma vida mais saudável, observa Thomas Loeffler, diretor financeiro da empresa alemã Messe Munchen, com sede na China e especializada em eventos esportivos.

“A classe média é cada vez mais numerosa e as pessoas podem se oferecer momentos de lazer”, continua Loeffler, para quem a moda das corridas não é passageira.

“No início, correr era considerado um esporte ao alcance de todos, mas depois de realizar algumas pesquisas, constatamos que as pessoas gastam muito dinheiro com tênis, roupas, garrafas ou aparelhos eletrônicos para correr”, explica.

Embora a grande maioria dos maratonistas é composta por homens (86%), as mulheres estão ganhando espaço.

É perceptível também a imponente representação de pessoas que cursaram o nível superior e de altos escalões empresariais. E, se um funcionário sonha com uma promoção no trabalho, correr pode ajudar: “A concorrência por empregos e por um lugar nas universidades é tão forte que as pessoas querem se destacar da multidão”, segundo Loeffler. Correndo, “temos a possibilidade de sermos diferentes, sairmos do ordinário e conseguirmos algo que poucos fazem”.