No comunicado da decisão de cortar em 1 ponto porcentual a taxa Selic – para 11,25% ao ano -, o Comitê de Política Monetária (Copom) alegou que o comportamento da inflação permanece favorável. O Banco Central avaliou que o processo de desinflação se difundiu e se consolidou nos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária.

“A desinflação dos preços de alimentos constitui choque de oferta favorável”, acrescentou a autoridade monetária. De acordo com o Copom, o choque favorável de alimentos pode inclusive contribuir para quedas adicionais das expectativas de inflação de outros setores da economia.

O comitê também repetiu que a aprovação das reformas fiscais é relevante para a sustentabilidade dessa desinflação e para reduzir a taxa de juros estrutural da economia.

Por outro lado, o BC afirmou que o alto grau de incerteza no cenário externo pode dificultar o processo de queda na inflação. Mesmo assim, o Copom avaliou que, até o momento, esse cenário tem mitigado os efeitos sobre o Brasil de possíveis revisões de política econômica em países centrais, como os Estados Unidos. O colegiado destacou ainda incertezas sobre a sustentabilidade do crescimento econômico global e sobre a manutenção dos níveis correntes de preços de commodities.

O BC considerou que os indicadores de atividade divulgados desde a última reunião, em fevereiro, permanecem compatíveis com a estabilização da economia no curto prazo e com uma retomada gradual ao longo de 2017. Entretanto, o comunicado também afirmou que a “recuperação da economia pode ser mais (ou menos) demorada e gradual do que a antecipada”.

Ao acelerar o ritmo do corte de juro para 1 ponto porcentual, o Copom afirma que houve “intensificação moderada” do afrouxamento das condições da economia e a nova velocidade “mostra-se, no momento, adequada”. “O comitê considera o atual ritmo adequado, entretanto, a atual conjuntura econômica recomenda monitorar a evolução dos determinantes do grau de antecipação do ciclo”, cita o comunicado divulgado nesta quarta-feira,12.

“Essa intensificação moderada em relação ao ritmo das reuniões de janeiro e fevereiro mostra-se, no momento, adequada”, argumenta o colegiado do BC. “O Comitê entende que a convergência da inflação para a meta de 4,5% no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2017 e, com peso gradualmente crescente, de 2018, é compatível com o processo de flexibilização monetária”. No texto, o Copom cita duas vezes que o novo ritmo de corte de 1 ponto é adequado.

Sobre a extensão do ciclo de afrouxamento das condições monetárias, o comunicado do BC repete a explicação de que “dependerá das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira”. Essa argumentação, porém, foi reforçada com a afirmação de que é preciso avaliar a atividade. Segundo o texto, o ciclo também dependerá “da evolução da atividade econômica, dos demais fatores de risco acima e das projeções e expectativas de inflação”. Essa frase não constava do comunicado da reunião de fevereiro.

Ao mesmo tempo, o BC reafirmou nesta quarta-feira que a extensão do ciclo afeta diretamente o ritmo de eventuais novos cortes de juro. “O ritmo de flexibilização monetária dependerá da extensão do ciclo pretendido e do grau de sua antecipação”, cita o BC, ao repetir que o cenário depende da evolução da atividade, dos demais riscos e das projeções de inflação.

IPCA

A projeção para o IPCA em 2017 no cenário de mercado teve elevação marginal na comparação com o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado no fim do mês passado e passou de 4% para 4,1%, de acordo com comunicado divulgado pelo Banco Central após o corte de 1 ponto porcentual da taxa básica de juro.

Já a previsão para a inflação de 2018 permaneceu ao redor de 4,5%, exatamente como no Relatório de Inflação divulgado no fim do mês de março. No cenário de mercado, o BC projeta a inflação futura levando em conta a trajetória para as taxas de juros e câmbio apontadas pela pesquisa semanal Focus. “Esse cenário supõe trajetória de juros que alcança 8,5% ao ano ao final de 2017 e se mantém nesse nível até o final de 2018”, cita o comunicado do BC.

No documento, o BC ressalta que as expectativas de inflação apuradas pela pesquisa estão em torno de 4,1% para 2017, mantiveram-se ao redor de 4,5% para 2018 e, para 2019 e horizontes mais distantes, “encontram-se ligeiramente abaixo de 4,5%”.

Assim como na decisão de fevereiro, o comunicado do Copom não trouxe as previsões do cenário de referência para a inflação neste e no próximo ano.